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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Gratidão a Marsha


Encontramos ali onde menos esperavamos encontrar aquilo que procuravamos. Como já escrevi em um outro momento, a nossa proposta de troca entre trabalho voluntário e sustento (alimentaçao\hospegagem) não foi bem recebida pela maioria das comunidades sustentáveis e centros de permacultura, principalmente, do sul e sudeste do Brasil. Se o acontecer do mud@mundo dependesse dos espaços ecológicos com que entramos em contato, se dependesse da cooperação e da solicitude das comunidades sustentáveis e centros de permacultura, então, nosso projeto, simplesmentente, não aconteceria. O caso é que, em um dos nossos insistentes contatos topamos com uma pessoa desconhecida pra nós mas que se tornou especial: a Marsha. Além de disponibilizar o seu espaço por alguns dias ao mud@mundo, ela compartilhou conosco uma informação valiosa. Marsha mencionou, por e-mail, um programa de voluntariado que existe ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Graças a isso continuamos aqui, firmes no propósito de realizar o mud @mundo. Imediatamente fizemos nosso cadastro no programa de voluntariado e buscamos pelas propriedades agrícolas que empregam tecnologias alternativas. Tudo parecia ser perfeito demais, por isso, nos preocupamos em enviar o formulário solicitado e nos certificar de que realmente funcionava o voluntariado. Para nossa surpresa e alegria, sim!. Existe nestes espaços a troca entre trabalho voluntário e hospedagem\alimentação\conhecimento prático. Encontramos ali, nas pequenas propriedade agrícolas, nos sitios e pousadas (que muito pouco se preocupam em divulgar ao quatro ventos o trabalho que desenvolvem, os valores que cultivam e o seu modo de vida sustentável) o verdadeiro significado de cooperação, solidariedade, partilha e, mais do que isso, o verdadeiro significado de voluntariado, o voluntariado que se constitui da troca. Ainda nos resta acertar as datas, mas, certamente, não deixaremos de passar por estes lugares e apresentá-los aqui.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ecovilas como contracorrente



Num dias desses estava lendo Edgar Morin e me deparei com a ideia de que, no mundo em que convivemos há dois poderes de morte: o primeiro é o da possbilidade da extinção global pelas armas nucleares; o segundo é a possibilidade da morte ecológica (o dominio da natureza pela técnica nos conduz ao suicidio). Como reação a isso há, então, o que o autor chamou de contracorrente. Há “a contracorrente ecológica, que com o crescimento das degradações e o surgimento de catastrofes técnicas\industriais tende a aumentar; a controcorrente qualitativa que, em reação a invasão do quantitativo e da uniformização generalizada, se apega à qualidade em todos os campos, a começar pela qualidade de vida; a contracorrente, ainda tímida, de emancipação em relação à tirania onipresente do dinheiro, que se busca contabalançar por relações humanas e solidárias, fazendo retroceder o reino do lucro“. Isso me fez pensar sobre as comunidades sustentáveis (ecovilas) e suas ações.
          Conforme Robert Gilman, uma ecovila é um assentamento humano ecológico, isto é, sustentável, em zona rural ou urbana, que possuí uma organização social própria, que integra atividades humanas que não prejudicam o meio ambiente, apoiam um desenvolvimento saudável e que pode continuar indefinidamente. Comummente, se compreende as comunidades sustenáveis como sendo um lugar em que as pessoas ou familias buscam viver juntas, não necessariamente na mesma casa mas no mesmo espaço, compartilhando valores comunitários e, além disso, buscando viver em harmonia com a natureza, em todos os seus níveis. É um lugar onde as diferentes esferas da vida humana (social, espiritual, ecológica) deveriam ser igualmente importante. É fato que este modelo de vida vem crescendo, que há muita gente em todo o mundo compartilhando da visão e do desejo de criar ou viver em uma comunidade sustentável.
           Em 1998, as comunidades sustentáveis foram nomeadas oficialmente na lista da ONU das 100 melhores práticas para o desenvolvimento sustentável, como modelos excelentes de vida sustentável. O modelo de ecovila tem proposto soluções viáveis não apenas para a erradicação da pobreza mas também da degradação do meio-ambiente. Elas surgem de acordo com as características de suas próprias bio-regiões e dentro do seu próprio contexto cultural e incluem em sua organização muitas práticas sustentáveis, ou seja, em todas elas há uma preocupação com energias renováveis, com construções de baixo impacto, com o lixo, com a àgua e a terra. Por reconhecer uma interdependência entre nós e mundo natural, as ecovilas possuem uma relação diferenciada entre homem e natureza. O ser humano é entendido como um ser integrado a natureza e que deve se ocupar dela de modo racional e com ela trocar saberes.
            Assim sendo, considero as ecovilas como exemplos concretos da contracorrene ecológica, uma vez que, se propõem a serem modelos de vida alternativa ao modo de vida insustentável e doentio da maioria das pessoas. Na medida em que há nelas uma preocupação em viver em harmonia com a natureza (com o mundo natural), com a alimentação orgânica e saudável e, em muitos casos, com uma saúde holistica, elas também representam a contracorrente qualitativa. Além disso, representam uma tentativa de emancipaçao em relação à tirania onipresente do dinheiro. É verdade que essa emanciapação é bastante tímida uma vez que, valores sustentáveis como partilha, solidariedade e cooperação fazem parte da maioria dos discursos, mas nem sempre são facilmente vistos aplicados na prática. É evidente que, como filhos do capitalismo, ainda há em nossas mentes e corações resquícios de valores associados a prática da dominaçao e da exploração. Certo estava Fernando Pessoa quando disse que “o sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse nunca é o que se vê quando a janela se abre“.

Reflexões sucitadas pela leitura do livro: Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro, de Edgar Morin.