Quinta-feira,
Paralelas
que se cruzam ...
O reconhecimento de si,
o reconhecimento do outro, o reconhecimento da união, o sentir-se um no
diverso. O reconhecimento de si como trio, trica, tribo. O ponto comum: desejo
ansioso de estar juntos. Preocupação explícita de um com o outro. O Cuidado com
o outro. Compartilhamos o valor e alegria de ter um ao outro, compartilhamos
saberes: Heidegger e sua filosofia do Dasein,
do ser- aí, presença. Heidegger e o jogo do ser existencial e do ser objetivo
(histórico-temporal). Jogo que é movimento, aberto, com regras (limites). Jogo
que não se joga sozinho: o jogo da vida. O jogo de um contexto contemporâneo,
niilista, desencantado, marcado pela tecnologia. Um jogo limitado por regras.
Regras que em um âmbito social podem ser compreendidas como o que Latour
descreve.
No jogo do ser no mundo
desencantado, realmente, parece que só um deus poderá nos salvar. Om Namah
Shivaya: honre a divindade que mora em ti. É disso que começamos tomar consciência no nosso
reencontro. Mas, um bom reencontro também costuma ter outras coisas:
calor, brisa do mar, afinidade, sentimento comum: sorrisos, alegria, bem estar, paz. Harmonia. Sincronicidade. É prazeroso perceber o outro
como companheiro do despertar dos sentidos, do pensamento, dos sentimentos,
enfim, na senda da espiritualidade. Sim, o caminho é sempre múltiplo. É inevitável escolher uma estrada. Os diferentes caminhos parecem seguir a mesma direção, parecem conduzir
ao mesmo ponto: o encontro, a unidade.
Sexta-feira,
Into
the wild: na senda do Rosa
Trio, trinca tripé,
tribo – quarteto. Os elementos da natureza podem explicar algo de si mesmo? E, assim, brincando com imagem e elemento descubro no encontro o elemento água (mar), o vento
(ar), o sol (fogo) e o elemento que faltava. O complemento, a terra: a menina mulher Laura. Encantadora, de sorriso fácil, de pele morena, de gosto e estilo requintado
associado com simplicidade. Sensível, crítica, sabe silenciar assim como
aprecia o estar só. Sim, ela conhece o valor do silêncio que provoca ou permite o silêncio do outro.
É fundamental saber ser só para estar com os outros. É na solidão silenciosa que descobrimos mais sobre nós, refletimos, nos movemos para dentro. O silêncio nos aproxima, nele criamos uma relação mais íntima entre o exterior e o interior. Assim, torna-se mais fácil encontrar o equilíbrio. O silêncio nos aproxima de nós e do outro. O silêncio nos aproxima da natureza e vice-versa: há o encontro de si possibilitado pela natureza e o revelar sobre si no contato com ela.
É fundamental saber ser só para estar com os outros. É na solidão silenciosa que descobrimos mais sobre nós, refletimos, nos movemos para dentro. O silêncio nos aproxima, nele criamos uma relação mais íntima entre o exterior e o interior. Assim, torna-se mais fácil encontrar o equilíbrio. O silêncio nos aproxima de nós e do outro. O silêncio nos aproxima da natureza e vice-versa: há o encontro de si possibilitado pela natureza e o revelar sobre si no contato com ela.
Na trilha, sobre a
grama verde, vendo o mar desvelou-se a Laura. Fala de si para nós e falamos
de nós para ela. Sim, há mundos distantes, mas em comu(m)unidade. Não deixamos
de nos preocupar com a integração e com o respeito ao outro. Não esquecemos de
ouvir o outro, ainda que desconhecido, distante. É quando nos dispomos a calar
e ouvir o outro que aprendemos com ele, compartilhando sorrisos,
integrando, comungando. É quando ouvimos o outro exatamente no momento em que
gostaríamos de estar sendo ouvido, que aprendemos. É quando ouvimos o outro que
nos tornamos abertos ao mundo. Constato que compreender a vida como movimento,
como fluxo é também entendê-la como sendo aberta, um movimento aberto ao outro, à
interferência anunciada do outro.
Sábado,
Padang:
constatações de um dia cinza
O coletivo não pode ter
a pretensão de anular o querer individual. Um quarteto não pode ter a pretensão
de ignorar e de fazer-se surdo ao outro, ao pensamento do outro. Nem pode impor
a vontade de um sobre o outro, de um querer duplo sobre outro. Na diversidade há o conflito. No conflito deve
prevalecer não a disputa, mas o bom senso. Ouve-se, segue-se o caminho do meio.
O meio-termo aristotélico. Ponto central nisso é o modo como dizer o que
se quer dizer. Em diferentes momentos houve dificuldade ora porque a fala
parecia impositiva, ora porque soava ofensiva ou ainda porque refletia certa
vaidade individual. Assim como disse Che Guevara: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" do mesmo modo, diga o que deve ser
dito, mas com ternura. Palavras bonitas podem soar ofensivas quando não se sabe
falar. A comunicação, certamente, é um problema das relações interpessoais.
Podemos interferir
decisivamente no ambiente ao qual estamos pelo modo como falamos. O contexto, a
situação pode se tornar melhor ou pior dependendo da entonação da voz, das
palavras escolhidas, da intensidade com que são proferidas. Verdade é que
conseguimos lidar com isso desde que temos ciência disso. Estar ciente é estar
atento ao que se diz, como se diz e ao efeito do dito. É preciso estar ciente
de que sou parte da relação dialogada que estabeleço. Se o conflito aparecer
devo voltar a mim e não ao outro, ao que eu disse e como disse e não me ficar presa ao modo como o outro compreendeu. Exemplos sempre serão bem-vindos já que em um
diálogo eles dão uma garantia da compreensão do que eu digo.
Assim como devemos
estar atentos às palavras, é preciso não descuidar dos pensamentos nem dos
sentimentos.
Atentos a si
respeitamos a escolha, o ser livre. A liberdade é fundamental no coletivo.
Liberdade de escolha. Mesmo quando se faz o que democraticamente foi
deliberado pelo grupo, há liberdade. Penso que em um relacionamento conjugal
vale o mesmo: é preciso dar liberdade. Se a cada dia estou ao lado do outro é
porque fiz a mesma escolha de ontem, é uma escolha que renovo todos os dias. O amor
não aprisiona, seja ele como for.
Domingo,
Into
the wild: na senda do Ouvidor
Assim como o "saber falar" o "saber ouvir" é fundamental. Calar para ouvir, eis a dificuldade! No falar há um desespero silenciosa que quer ser ouvido, mas, quanto mais falamos e menos ouvimos mais surdos ficamos para o que grita dentro de nós. Saber ouvir o outro, saber ouvir a si mesmo, é uma questão de respeito.
Em silêncio na praia do Ouvidor compreendo que existe uma inquietação que é provocada pela desarmonia entre o mundo interno e o externo. Quando há uma harmonia do ritmo interno com o do mundo externo sente-se um bem estar. É preciso estar em sintonia interno-externo e, isso significa, o ritmo e a velocidade do mundo exterior e interior devem estar em acordo. Isso se anuncia no discurso sobre o valor do respeito ao ritmo natural. A frequência natural é abalada, desritmizada, principalmente pelo mundo exterior: acelerado, estressado, impaciente, materialista, objetificado, niilista. O nosso ritmo interior anda em desacordo com o do mundo exterior. Foi dito: “a existência tanto individual como coletiva se tornou unilateral, isto é, perdeu seu equilíbrio.”
Em silêncio na praia do Ouvidor compreendo que existe uma inquietação que é provocada pela desarmonia entre o mundo interno e o externo. Quando há uma harmonia do ritmo interno com o do mundo externo sente-se um bem estar. É preciso estar em sintonia interno-externo e, isso significa, o ritmo e a velocidade do mundo exterior e interior devem estar em acordo. Isso se anuncia no discurso sobre o valor do respeito ao ritmo natural. A frequência natural é abalada, desritmizada, principalmente pelo mundo exterior: acelerado, estressado, impaciente, materialista, objetificado, niilista. O nosso ritmo interior anda em desacordo com o do mundo exterior. Foi dito: “a existência tanto individual como coletiva se tornou unilateral, isto é, perdeu seu equilíbrio.”
Com espanto alegre
compreendi que é do desequilíbrio entre os dois mundos (o objetivo e o mental
(subjetivo) que brotam doenças mentais). As doenças, filhas do desequilíbrio no
ritmo afetam principalmente aqueles que possuem uma boa capacidade intelectual.
Pensando ainda mais longe: o contexto interfere decisivamente para acelerar ou
equilibrar o ritmo externo em relação ao interno. Se o desaparecimento de uma
doença mental depende de um modo de vida equilibrado entre os dois mundos
(interior e exterior), certamente, ela pode ser agravada ou amenizada em função
do ambiente social-natural em que se vive.
...
Nossa praia é o mar ...
Segunda,
Na diversidade
existe o conflito
Chapati. Planejamento
coletivo. Respeito da frequência natural. Cada um tem seu próprio ritmo, mas quando nos dispomos a estar com o outro não podemos desprezar o fato de que o ritmo individual é uma parte inseparável do ritmo coletivo. Percebo que o ajuste entre os ritmos é fundamental para o estar contenti (ato de estar satisfeitos consigo próprio) e, consequentemente, do bem-estar coletivo.
No processo de ajustamento do ritmo matinal individual ao coletivo ouvimos aquela voz (já familiar) dizendo: “vocês chegaram aí como índio, batendo em pedra, mas como se faz? vocês colocam terra”?
No processo de ajustamento do ritmo matinal individual ao coletivo ouvimos aquela voz (já familiar) dizendo: “vocês chegaram aí como índio, batendo em pedra, mas como se faz? vocês colocam terra”?
Ensinar significa
deixar um sinal, deixar uma marca. E, neste caso, ensinamos pelo exemplo. No
momento em que montamos acampamento também separamos os resíduos, construímos nossa composteira. É questão de coerência entre o dizer e o fazer. Quando
não respeitamos isso, ou seja, quando há o desacordo entre teoria e prática
pode existir o conflito. Um conflito existencial.
“O
mundo está repleto de diversidade num cenário de formas e cores variadas e
expressões diversificadas”
Os conflitos são parte
da nossa vida. Na diversidade o conflito é inevitável enquanto que aprender com
ele é essencial. O silenciar e o voltar-se para si: a auto-análise. O que
primeiro geralmente fizemos é olhar e apontar o outro. É culpar o outro. Entretanto,
não podemos esquecer que relações surgem de modo simultâneo e são interdependentes.
E isso significa, que nós fizemos parte da relação conflituosa. Não há como
modificar, alterar, melhorar uma relação se não entendemos que fazemos parte
dela. O estar só, o retirar-se do coletivo, o olhar para si, permite o
reconhecimento de si como parte responsável do conflito. Quando entendemos
isso, passamos a ter responsabilidade não só sobre aquilo que dizemos como também do modo como
anunciamos.
Sim, em diferentes momentos ora um ora outro retirou-se
de cena para ficar a sós consigo mesmo, ainda que sem estar consciente da
importância disso.
Terça,
Os sons e os perfumes dos estados fundamentais
Quando nos propomos a
por o pé na estada e abrir mão do conforto da nossa casa devemos nos preocupar
com necessidades básicas como alimentação, vestuário, segurança, mas, além
disso, é igualmente importante a preocupação com a trilha sonora e com o
perfume (cheiro). O aroma no ar afeta uma área em que a consciência não tem
acesso nem domínio que são os estados de ânimo. O mesmo faz a música. A
combinação entre o cheiro e som pode determinar a maneira como você vai
conduzir o teu dia, pode interferir, inclusive, na perspectiva de interpretação
do mundo compartilhado com os outros.
Venha sol, venha sol pra iluminar o dia
E venha sol venha sol pra harmonizar o diaa
venha sol venha sol pra iluminar a vida
Gaia Piá – Venha sol.
A música inspira, interfere na
realidade, altera o ambiente onde se está e muito além onde nem percebemos.
Se a música tem o seu poder próprio não menor é o poder da poesia. Penso que
ela costuma dizer aquilo que muitas vez não conseguimos expressar. Dado o seu
valor, além da música também nos encontramos com a poesia. No fim deste dia celebramos com a poesia de Fernando Pessoa.
“Pertenço a uma geração — ou antes a uma parte de geração —
que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro.
Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra causa.
Quarta,
Gaia Piá – O ouro da terra
“Ser
livre como o vento, pra longe chegar ...
Quanto
mais for verdadeiro, mais o sol pode brilhar ...
...
Chegou um novo tempo ...
...
É a frequência natural ...
Nos percebemos no mesmo
movimento, no do despertar da espiritualidade. Cada um no seu caminho. É comum que
uns sigam a senda oriental: yôga, meditação, taoísmo; enquanto outros na senda
religiosa e outros outras sendas ... há tantas ... Cada
existência tem um caminho próprio e um ritmo, porém, quando o movimento é para
a mesma direção, quando os existentes despertam, se põem na busca da
espiritualidade, então, toda a diversidade e todos os diferentes ritmos passam
a ter sincronicidade. Talvez seja por isso que em caminhos diferentes
identificamos o mesmo: o despertar para a presentidade do ser, isto é, para o
presente do ser no mundo. Ser no presente, estar no presente: viver o agora. No
agora se abre uma outra percepção da realidade e modifica-se a escala de
valores (existenciais). O tempo presente é o que existe. No tempo presente
vivenciamos a experiência de outro tempo que começa, agora. O bem-estar e a
alegria incontida, pairam no ar, contagiam. Sim, vivenciamos a experiência de
um tempo autêntico.
Quinta,
'"O caminho do excesso conduz ao Palácio da sabedoria"?!
William Blake
William Blake
Excessos conduzem ao
desequilíbrio. Exagero, excessos revelam o eu que não reconhecemos ser nosso.
Excessos animalizam o homem. O homem dominado por algo em excesso torna-se um
ser inferior já que nem a razão nem o sentir tampouco o dizer e o fazer tem a
possibilidade de funcionar em harmonia. Este homem não poderá exigir respeito porque além do outro está desrespeitando a si mesmo. Excessos autorizam ao outro te
inferiorizar bem como te desprezar. Excessos podem causar uma noite mal
dormida, uma ressaca física e/ou moral. Podem provocar arrependimento,
esquecimento de si e do outro além de gerar cansaço, desatenção, culpa. Toda
uma relação construída durante anos pode desfazer-se mediante excessos seja de
que tipo for. Até mesmo o dia seguinte de uma noite de excessos corre o risco
de ser um dia perdido. No entanto, tudo é uma questão de atitude, do modo como te põe
diante da vida, de cada dia, dos acontecimentos dos dias, das dificuldades,
decepções, do sofrimento.
Para
cima e para o alto
Quando mencionamos o
valor da atitude pensamos aqui tanto no âmbito do físico quanto do mental. A
atitude mental diante da vida é fundamento de uma atitude real/física. Como
andei lendo por aí: “as dores e as agonias sofridas pelas pessoas são mais
psíquicas do que físicas”. Consequentemente, se nossa atitude mental for de
negatividade diante de uma situação, certamente, nossa ação também será
negativa. Percebo que ao saber disso tenho em mãos o poder de transformar
qualquer dia difícil em um dia mais ameno ou um sofrimento pesado em um peso
mais leve. Assim como é preciso saber querer, sobretudo, é preciso transmutar
sentimentos e pensamentos diante das situações existenciais.
Sexta,
O
fim é o começo
Os dias de convivência somaram momentos de leveza, alegria, recolhimento, conflito velados, reflexão. Experienciamos cada dia como sendo um fluxo contínuo cheio de
possibilidades, possibilidades de ser, fazer, sentir e pensar. As possibilidades estão por todos os lados.
Um ser de possibilidades é o que somos e temos o poder da escolha. Por poder escolher dizemos que somos um ser livre. O âmbito das possibilidades não se limita ao mundo físico-existencial senão também ao psíquico-mental. Com o poder da escolha, apesar dos acontecimentos desagradáveis, não deixamos de vivenciamos e celebrar um dia bom.
Ensinaram-me que o cheiro pode alterar estados de ânimo e que a música também pode influenciar tais estados. Se usados de maneira associada o poder de interferência é maior. Com o aroma do incenso e ao som de Pedro Guerra, “La lluvia nunca vuelve hacia arriba” celebramos a despedida do encontro. Celebramos a beleza da natureza, o despertar dos sentidos, o aprimoramento da racionalidade, a irmandade, a alegria, a criação do ELO.
Um ser de possibilidades é o que somos e temos o poder da escolha. Por poder escolher dizemos que somos um ser livre. O âmbito das possibilidades não se limita ao mundo físico-existencial senão também ao psíquico-mental. Com o poder da escolha, apesar dos acontecimentos desagradáveis, não deixamos de vivenciamos e celebrar um dia bom.
Ensinaram-me que o cheiro pode alterar estados de ânimo e que a música também pode influenciar tais estados. Se usados de maneira associada o poder de interferência é maior. Com o aroma do incenso e ao som de Pedro Guerra, “La lluvia nunca vuelve hacia arriba” celebramos a despedida do encontro. Celebramos a beleza da natureza, o despertar dos sentidos, o aprimoramento da racionalidade, a irmandade, a alegria, a criação do ELO.