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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A mulher que sou



Me perguntaram:
Como ocupas teu tempo?
Ah!! ... como se fora do mundo do trabalho
não houvesse nada a se fazer

Digo
Que observo o movimento dos pássaros,
A vida a germinar e florescer ...
Localizo ninhos,
Acompanho o desabrochar da flor
Cuido da terra
Planto pra cultivar o interior

Pratico o cuidado de si:
medito, estudo, exercito a criatividade
O amor desinteressado
(no trabalho voluntário).
Me reconecto com o feminino
ameaçado em seu ser
pelo mundo laboral e impessoal.

Cuido da casa, lavo, só não passo ...
Sem revolta, sem menosprezo...
Realizo a alquimia na cozinha:
descubro aromas e sabores
Sujo as mãos na terra
Só para flore(S)er

Observo os ciclos da lua,
os meus ciclos...
Percebo as estações passando pela terra,
Sinto-as passando em mim;
o movimento do morrer para renascer

Permito ser tocada pelo tambor que toco
Na roda de capoeira:
rodo, brinco, danço, jogo
Só pra dar leveza ao corpo
e alegria ao espírito

E, tudo isso que faço,
somente o faço 
por estar fora 
do lugar que tanto lutamos
para estar
e em pé de igualdade, competir:
o mundo do trabalho.