O
que és tu para além da pureza e perfeição da natureza? És unidade. Sim, tu não
vives a díade, a dicotomia, a dualidade, a separação entre eu-outro, eu-mundo.
Nada sabes acerca do bem e do mal, do bom e ruim, certo e errado, direita e
esquerda, bonito e feio. Tu és una e assim tens a percepção do mundo, tu és o
mundo, o teu mundo. O que expressa no choro ou na alegria é o teu ser inteiro,
tua integridade, tua totalidade, tua verdade, sem fingimento, sem imagem, sem
eu. Tu és unidade exatamente porque ainda não tens um eu (ego). Tu és aquilo
que busco ser. Tornar-me quem tu és é a meta da jornada espiritual. O
autoconhecimento que tu me permites ter é exatamente o que conduz a unidade.
Ser um com o todo é a meta, o autoconhecimento o caminho.

Quando
tu nasceste, o cordão que nos unia foi cortado e no mundo físico tornamo-nos
duas: eu e tu, mas, no mundo sutil, nossa unidade permanece e assim será por um
tempo. Tu és, sutilmente, meu espelho já que comunicas aquilo que silencio, manifestas a minha sombra, o que sinto tu sentes. Eu e tu estamos, por ora, fusionadas e
nada do que se passa em mim deixa de ser expressado por ti. O meu corpo em
contato com o teu lhe oferece o limite e a segurança dentro da vastidão que é o
mundo para ti, já a expressão do teu corpo revela a minha alma que é composta
do passado como também do presente. És tu que pelo teu olhar doce,
pelo teu sorriso meigo e pelo choro faz irromper em mim as sensações do
bebê que eu já fui. Sim, como meu espelho, tu me fazes sentir como se fossem
minhas as tuas sensações. Ao me reconhecer em ti sou inundada por sensações
agradáveis, vivencio estados de alegria e amor que, certamente, são divinos por
serem sublimes.

Tu
que és meu espelho, tu que és a criança que já fui, tu que comigo te comunicas
(sem palavras) é quem me permite perceber o que em nosso cotidiano eu sou. É
por reconhecer o que sou que posso ir além e realizar a verdadeira
transformação (de mim mesma). É porque estas junto de mim que posso ir além da
forma (do conteúdo) pela ação. Transcender a forma é colocar em prática o que
tantas vezes já li, compreendi e contemplei na teoria. Sim, és tu que me
permite observar o meu interior – perceber o que se passa dentro: o sangue
ferver cada vez que teu choro casa com meu cansaço; a expansão do amor quando
te olho e admiro. É, assim, contigo que a noite vem, a manhã vem, outra vez a
noite ... o ciclo se repete sem parar, mas, a cada dia tenho a oportunidade de
me tornar melhor, de aplicar o conhecimento aprendido outrora e, dessa maneira,
evoluir. Isso só é possível porque tu crias as situações favoráveis de
aperfeiçoamento de mim, de medit(A)ção, de presença, o que significa, contigo
tornei-me atenta ao que se passa dentro na forma de sentimentos e pensamentos e
ao que se passa fora na forma de ação no aqui e agora. A ti sou grata! OM!