"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, um sonho, uma ponte, da procura, um encontro."
(Fernando Pessoa)
...
...
Estive cheia de sonhos, sonhos que conduziram a ação, sonhos que coloriram meus desejos, sonhos que me levaram a angústia que mora em mim. Angústia que com frequência transborta em lágrimas, em grandes imaginações, em planos de fuga. mas, como aprendi a respeitar os sinais do tempo, a estar a seu favor, sincronizada com o momento, deixo-o decidir e sem insistir me rendo. Os meus sonhos, que não conhecem os limites do tempo, mas que só acontecem dentro de um tempo, vão ter que esperar. O tempo deles não é este agora, mas o mais tarde.
Mas, deixe-me contar dos meus sonhos porque ao desenhá-los em letras alivio minha angústia: O que nos pôs em movimento foi o desejo de satisfazer os nossos interesses subjetivos aliando-os a uma causa objetiva. A causa porquê acreditamos fazer sentido lutar é a da sustentabilidade. O desafio desta geração é mostrar que outro mundo é possível, que podemos substituir um habitus insustentável por um habitus sustentável de vida. Isso depende, certamente, de uma mudança em nós. Nós temos que ser a mudança que queremos ver no mundo! Com o intuito de buscar mudar a nós mesmos e o mundo (por meio de uma educação para a sustentabilidade) criamos o projeto mud@mundo. Estruturá-lo teoricamente não foi problema, já que fomos muito mais adestrados a sermos bons teóricos do que executadores de ideias.
Nos primeiros dias deste ano de 2012 descobri a mais nova profissão do nosso século: Personal Coach (uma espécie de conselheiro que através de perguntas poderosas, técnicas e ferramentas específicas tem a função de ajudar as pessoas a atingir os seus objetivos). Decidimos ouvir os sesu conselhos pois assim tendo um modelo de conduta se torna mais fácil, por comparação, saber onde erramos. Os conselhos do Coach rezam que é preciso sonhar, definir o objetivo com um tempo de realização determinado e, assim, traçar uma plano de ação (definir o passo a passo). A intuição, incrivelmente, é levada em conta. É aconselhável ouvir a voz interior, suas objeções, a sensação de desconforto ou conforto por ela provocada. Também é importante antecipar mentalmente a vivencia do que está em jogo; é importante perceber o que se vê, ouve e sente ao anteciparmos a vivencia do ponto de chegada do projeto em andamento. Ainda é necessário o bom senso, a motivação e a celebração (comemorar cada conquista) e, sobretudo, o fazer (a ação). O bom senso é necessário quando se sabe que com o nosso projeto afetaríamos pessoas ao nosso redor. Se houver desarmonia é com o uso do bom senso que se tenta adequar os outros aos nossos objetivos.
Com o conhecimento do procedimento ideal passaremos, agora, a uma autoavaliação. É curador e enriquecedor o processo de filtrar os sonhos, identificar os pontos fracos, os erros cometidos. Isso nos purifica, alivia a culpa de nós por nós mesmos. Repasso em minha memória os dias de construção só para identificar os pontos frágeis da utopia, do mud @mundo. O sonho é algo que brota de dentro e não pode fazer parte “deste dentro” por convencimento. O seu nascimento no interior pode ser provocado por diversos estímulos, mas, jamais deve ser forçadamente ali plantado porque dessa maneira não brota, não vinga. Qs sonhos devem nascer de modo natual e não ser plantados. Foi mais ou menos isso o que fiz: forçei o(s) outro(s) a criar dentro de si o meu sonho para desse modo podermos ter um sonho comum. A diferença é que frente a qualquer dificuldade eu permanecia presa ao meu sonho e você(s) se desprendia(m) para, mais tarde, ao serem lembrados, voltar a estar a ele contado.
Já o objetivo sempre esteve claro, porém, o plano das ações foi centralizado em torno do como realizaríamos o “nosso” sonho e não no modo como chegaríamos até o ponto de começar a realizá-lo. O ato de antecipar a vivencia do nosso projeto nos fez planejar detalhadamente a sua execução e deixamos de planejar cautelosamente os passos que conduziam até a execução. Vítimas do imediatismo, pecamos! Queríamos executá-lo logo, o quanto antes, e, imediatistas que somos, menosprezamos o caminho que deve ser trilhado até chegar ao ato que condiciona o fazer (executar). A motivação foi muitas vezes abalada pelas palavras e pensamentos negativos vindos de quem foi convencido a ter um sonho. Quem tem um sonho dentro de si é Fortaleza: não é atingido pela discordância ou desarmonia dos outros em relação aquilo que é o seu querer. Não se preocupa em demonstrar que sua ação os beneficia de algum modo ou que, pelo menos, não os prejudica. Mas para quem tem um sonho colocado dentro de si sente o peso das objeções de gente de fora, a discordância do outro abala ainda que o outro (apenas indireta e inofensivamente) seria afetado pela sua realização. Não se consegue demonstrar que sua ação os beneficiará ou não os prejudicará. A intuição, na verdade, nunca deixou de dar seus palpites, mas, muitas vezes decididamente ignorei suas acertadas alfinetadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário