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terça-feira, 11 de junho de 2013

KUNDALINI: no interior do interior.


Tatiana Palm
 

 
O sol brilhava no alto, o cheiro era de mata úmida,  o caminho era de chão batido sombreado por árvores, encontravam-se vários desvios, mas era preciso chegar lá, e lá chegamos. Corríamos, lentamente, no interior para o nosso interior. Eis o desafio! Era preciso chegar, porque desejávamos chegar, estar lá. Desvendando o caminho ficávamos atentos buscando os sinais. Eles estavam lá, mas era preciso, atenção! Quando acreditávamos estar perdidos uma árvore se pôs caída no meio do caminho, era preciso estar lá para que ficássemos sabendo que não estávamos muitos quilômetros distante de onde deveríamos estar.
 
 
Foi com leveza, atenção, cuidado, alegria e diálogo que cruzamos a entrada de onde queríamos estar. Descemos alguns degraus de pedra entre o verde da grama e a cor da terra e avistamos em frente e não muito longe a tenda principal – tenda do trance. Era seu colorido contrastando com o verde da mata. Imaginando que a noite era uma espaço ainda mais mágico - o espaço de poderes noturnos. Conforme avançamos vimos gente colorida, bonita, saias rodopiavam com o vento, rostos com semblantes serenos e angelicais circulavam movidos por algo de ordem prática, e, nossa atenção desviou-se: ouvimos o barulho da água misturada ao som pulsante, eletrizante, contagiante. Desviamos o olhar e avistamos tendas coloridas pela arte que é feita à mão e do lado oposto por entre as árvores avistamos o casarão-moinho.

 

Fotografia: Daniel Poletti


Fotografia: Manu Borges
 


























Nos deslocamos em direção as cores que balançavam com o vento, lá encontramos o conhecido poeta que nos indicou o caminho para a cura. Era o que buscávamos: a tenda da cura. O caminho que nos conduzia até a cura era uma ponte curta, estreita, suspensa, de modo que permitia o fluxo de poucos, um fluxo equilibrado pelo ir e vir. Atravessamos a pequena ponte e chegamos em um espaço encantado, em nada perturbado pelo som da tenda trance. Era de 10 manhã, encontramos um som contagiante, calmo, introspectivo.

 
Havia quem estava sentado no chão sobre a grama ou em cangas coloridas, outros deitados sobre almofadas, alguns pareciam mesmo estar em transe, possuídos pelos mantras. Imediatamente sentimos que aqui era a tenda da cura, era o nosso lugar. Comunicamo-nos com o olhar, caladamente nos sentamos, deixamos nossos pés descalços, fechamos nosso olhos, nos entregamos, nos desarmamos. Nos permitimos sentir o que acontecia conosco enquanto o som dos mantras penetrava em nós. E, ali ficamos, ficamos, ficamos, e, ficamos.


A música se misturava harmonicamente com o barulho da água da cascata que estava por detrás das árvores e que não se deixava ver por inteiro. O cheiro de ervas aromáticas, de incenso, do mato se misturava com o frescor da água, com o calor do sol, causando uma sensação enorme de bem estar. Tenda da Cura: o lugar não poderia ter outro nome já que nos faz sentir a curação, que nos faz sentir coisas pela primeira vez, coisas que são difíceis de explicar com palavras; nos faz resignificar acontecimentos passados que, agora, compreendidos provocam a cura de nós mesmos. Quando saímos daqui, renovados, buscamos nos aproximar da cascata. Exploramos as duas margens, pelo caminho encontramos placas que nos relembravam coisas simples, fortes, curativas, mas que costumamos esquecer talvez porque cotidianamente estamos aprisionados na racionalidade e andamos esquecidos da sensibilidade.













Quando chegamos ao lado oposto de onde vimos, pela primeira vez, a água caindo nos deparamos com bancos reciclados: os brancos contemplativos é de serem convidativos à meditação.

 
 
Fotografia: Manu Borges










Em frente da cascata, sentados em bancos de ônibus readaptados, sentindo a brisa fresca do vapor de água bater no rosto, ali, nos deixamos ficar por mais um longo período. Aliás, por um período ainda maior de tempo do que aquele da tenda da cura. Até levantamos algumas vezes buscando por água e alimento, mas, em seguida, ali retornamos. A música que, o tempo todo esteve presente já era uma só com o vento, ar, com o som da água. Aqui descobrimos o poder curativo e relaxante da água. Nem foi preciso um banho nas águas gelada do rio para sentir o processo de cura acontecendo.


Fotografia: Manu Borges
 
Fotografia: Manu Borges


 
 
 
 
 
Hoje,lembrando, percebo que de tão encantados nos sentimos completos e por assim estar nos deixamos ficar. Na completude e na leveza deixamos de nos aproximar, conhecer, de vivenciar o espaço onde acontecia a cura pelo toque: a tenda da massagem. Chega o fim do dia, nos despedimos do lugar, olhamos para o espaço central, a tenda trance, era fim de tarde. Em pouco tempo a pista com o céu estrelado e a lua cheia no alto estará lotada, enquanto isso alguns deixavam o corpo balançar, outros relaxavam estendidos na grama ... subimos as escadas deixando atrás de nós um espaço encantado, pegamos a estrada outra vez, em direção ao interior à nossa casa.

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