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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Primavera: o Ser floresce em mim


   

           A descrição do que se experiência é sempre uma aproximação do que é experimentado. Ando saboreando a fragrância da Consciência que mora em mim, do Ser que me habita. Me aproximo da morada do Ser (autêntico). O caminho é longo, avanço em passos lentos, mas prazerosa e alegremente. Tudo começa no reconhecimento do presente, do agora, do ser e estar presente. Mas não basta o conhecimento do valor do agora, da atenção, é preciso mais do que isso para se sentir inteiro, completo: é necessário ter a experiência. Estar presente, ser atento, ser presença possibilita a inteireza no fazer, no sentir, no que se é (so ham). Estar no agora é estar em medit(a)ção.


          Atenção! Atenção! repete o pássaro da Ilha. Atenção é sustentar o foco sobre um objeto escolhido e não permitir a distração da mente. Para além disso, estar atento é o mesmo que ser-consciência, praticar a presentidade. Procure estar atento, presente, do teu exterior, mas também faça com que a luz da consciência (atenção) dirija-se ao seu dentro. Perceba: o que sentes? Por que sentes? Com a consciência do que se passa fora e do que se passa dentro, nos aproximamos do próprio Ser que somos, do Ser enquanto centro de força, que não é diferente das forças constitutivas do cosmos. Osho diz que, quando estamos no Ser todo e qualquer fazer se torna sagrado. Se vamos um pouco mais longe percebemos ser e fazer não representam uma dualidade senão que o Ser  está contido no fazer.
          Certamente podem questionar se a experiência de ficar atento ao presente ou ainda se o ato de manter a mente sem distrações pode ser uma ação do dia a dia. Ser presença não exige um retirar-se da vida cotidiana, ao contrário, significa adentrar nela ainda mais na medida em que nos tornamos plenamente presente em cada experiência subjetiva (do fazer e do sentir). Posso exercitar minha presentidade em pequenas situações com, por exemplo, no fazer um chá: opto pelo sabor, cuidadosamente esmago as folhas secas, escuto o seu ruído, percebo o movimento das minhas mãos, estou atento, estou presente no fazer. Não deve ser diferente quando você dança. Na dança é possível a mu(d)ança quando há uma entrega de si, o estar presente no passo, no ritmo. Anseie multiplicar o estar presente, estendê-lo a diversas e diferentes ações de modo que possa nele estar, ficar, permanecer como presença. Como disse Mooji, seja presença, a todo momento, onde quer que vá a sua atenção, traga ela de volta para o presente e, gradualmente, nossa consciência permanecerá lá (presente) sem esforço.


          Cultivo o ato de prestar atenção, especialmente realizado com base da observação da respiração e, quando saboreio, ainda que fugazmente, o estado do Ser também surgem as cores vivas que caem em cascata sobre mim causando sensações agradáveis. Torno-me sombra, vazio, protegida por luzes coloridas. Eu sou significa ser presentidade. Quando sou presença capturo o significado heideggeriano de Dasein, Ser-aí.

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