A
maternidade nos faz adentrar no mundo dos diferentes tons de rosa, lilás,
salmão verde, azul .... nos faz retornar ao mundo infantil, da imaginação e do
encantamento. É a oportunidade de reavivar vivencias da infância, de reviver
com clareza as sensações infantis que experenciamos. Ela nos faz pensar que uma
educação verdadeira é aquela que permite que a vida que geramos se desenvolva
em toda as suas potencialidades. Ela nos mostra que educar, enquanto um ato de
amor, é criar a oportunidade para que os dons e talentos do ser que geramos se
manifestem e se coloquem a serviço do bem, da construção de um mundo
melhor. A maternidade desenvolve a
sensibilidade e a paciência que nos torna capazes de, simplesmente, acompanhar
o desenvolvimento do ser único e diferenciado que geramos e a realização do seu
propósito aqui no espaço ao qual pertence e que foi colocado. Olhar,
acompanhar, guiar, oferecer condições de realização são atitudes que exigem
tempo, introspecção e silêncio.
Entrar
no mundo da maternidade é ter a oportunidade de despertar o amor em forma de
doação. Doar-se ao outro, servir ao
outro, significa, ao mesmo tempo, abrir mão de si mesma, agir por desinteresse,
amar sem esperar nada em troca. A maternidade, que corresponde ao dar à luz,
nos oferece a possibilidade de acessar nossas sombras que se manifestam no ser
vivo com que estamos em fusão. É a oportunidade de nos conhecer a nós mesmas,
de ser verdadeiras com nós mesmas, de crescer espiritualmente. Nela há a
oportunidade do encontro com o arquétipo materno que cada mulher carrega em si,
da reconexão com a energia feminina que pertence a um inconsciente coletivo
feminino. Ela é a oportunidade de tomar consciência do próprio corpo, de sentir
o nosso corpo abrir-se como as pétalas de uma flor para que a vida que vibrava
dentro passe a pulsar do lado de fora.
A
maternidade pode nos fazer repensar a forma como chegamos ao mundo. Ela nos faz
querer que a vida que pulsa em nós floresça em seu ritmo natural, por meio de
um parto natural, com mais prazer do que dor. Ela nos faz compreender que o
parto pode ser um rito de passagem que nos permite transcender o mundo das
formas (mundo material) e nos conduz até um mundo sutil, ali onde reside a vida
que se conecta conosco. Ela nos revela o parto como um rito que nos permite
acessar um outro estado de consciência, onde se perde a noção de espaço e
tempo, um rito que nos faz renascer como mulher, que nos permite superar o medo
da vida e da morte.
A
maternidade despedaça a vida tal como ela é, sim, e desintegra nossa alma. Com
os nossos pedaços emocionais esparramados por aí temos a tarefa da reconstrução
de si, e, por isso, temos na maternidade a oportunidade de nos despedirmos da
mulher-menina que vive em nós para nos tornar a mulher-terra, a mulher-pássaro.
Somente a mulher-pássaro tem a capacidade da reconstrução, pois somente ela é
capaz de transitar entre os dois mundos, o mundo físico (concreto) e o mundo
sutil. Somente ela tem a capacidade de sobrevoar e lidar com as situações
cotidianas e, ao mesmo tempo, voar em direção ao interior de sua alma. A
maternidade ainda oportuniza a cada mulher a conexão com sua força interior, a
conexão com sua natureza selvagem Não se trata, no entanto, do selvagem no
sentido de descontrole, mas no sentido de conectar-se com os aspectos naturais
e animais, tais como e o parto e a amamentação, o que nos fornece o
conhecimento, a intuição e inspiração.
A
maternidade nos dá a oportunidade do empoderamento de si. Nela temos a chance
de tomar o poder e a responsabilidade da criação em nossas mãos, temos a
oportunidade de nos tornar protagonistas e decidir sobre nosso corpo, o parto e
todo o ciclo materno; podemos decidir ouvir a nossa intuição para tomar
decisões e conseguir ser uma boa mãe, podemos crescer e evoluir por si. A
maternidade ainda nos dá a oportunidade da sororidade, afinal, nos oferece a
possibilidade de compartilhar nossas incertezas e emoções e não sofrer
julgamentos, de nos amparar em outras mulheres sábias e experientes dispostas a
guiar e cuidar de si num caminho de desconstrução-construção de si mesma. É o
apoio afetuoso que permite explorar a abertura da nossa sombra, ele faz com que não
nos assustemos com nossas partes ocultas, nos dá a confiança e força para
navegar em nossa própria sombra e enfrentar as dificuldades que diferem apenas
na aparência. Com a maternidade podemos encontrar uma rede de apoio, de
compreensão e solidariedade que, por sua vez, nos faz sentir que,
definitivamente, todas somos uma.
Por
fim, a maternidade oportuniza a reminiscência de que há algo além do que nosso
olhos veem, há uma força interior que reside em cada uma de nós, há um “eu sou”
que deve ser encontrado. Nesse sentido, adentrar no mundo da maternidade pode
ser iniciar uma jornada espiritual que nos conduz ao conhecimento de si, ao
encontro de si mesma, a descoberta do “eu sou”. Isso é assim porque na
maternidade vivenciamos a possibilidade de recordar da nossa conexão com a
terra, (nós somos a terra, o alimento e os ciclos vitais), ela oportuniza repensar
e feminilizar a sexualidade, o que quer dizer, reinventar a sexualidade,
encontrar novas maneiras de se relacionar amorosamente, conectar-se com a parte
feminina da essência que pertence a ambos, homem e mulher. A maternidade nos
permite encarar nossas emoções, nos curar de nós mesmos e de um passado que
carregamos dentro. E, nesse caminho, podemos manifestar o amor em sua forma
pura, elevada, incondicional. É nesse caminho que as potencialidades escondidas
em nosso âmago podem se revelar e a criatividade fluir. A aparição dos filhos,
na verdade, rima com crescimento.
Para
finalizar, é preciso lembrar que há uma imensidão de possibilidades que a
maternidade nos oferece, porém, elas são dadas na medida em que vivemos uma
maternidade consciente, caso contrário, ela pode, sim, fazer com que mulheres
tornem-se, definitivamente, ainda mais distanciadas e perdidas de si mesmas, da
sua verdade e do seu ser na medida em que atendem a um chamado
interior, mas, simplesmente, cumprem um papel social que lhes é exigido: ser mãe.
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