Montessori
disse que a vida dela poderia ser resumida em uma frase: “Eu descobri a
criança”. Como? Ela simplesmente olhou para a criança. Observou. Em sua postura
de observação deixou de lado teorias sobre a criança, pôs em suspensão os
juízos, os preconceitos culturais. Tão somente pela observação ela permitiu a
criança se revelar naquilo que ela é, deixou-a desvelar-se na sua essência.
Como pais e educadores é fundamental nos exercitar na atividade inativa de
observar, simplesmente, sem interferir. Para isso é necessário por em suspensão
nossos juízos ou julgamentos, é preciso silenciar. É no silencioso observar que
desvendamos a criança que existe ali diante do nosso olhar, sob a nossa
proteção, envolvida pelo amor. Ela que está aí completamente presente e em sua
inteireza.
A
observação da vida humana que se desenvolve ao lado exige o não envolvimento,
isto é, o distanciamento do observador. Exige que ele seja apenas uma
testemunha dos processos da criança e que compreenda as necessidades e
qualidades dela. Ao educar podemos nos tornar um eu observador quando deixamos
de ser um eu ativo e intervensor, isso quer dizer, quando silenciamos. É um
exercício simples mas muito difícil de realizar isso de parar e simplesmente
observar. Quando realmente observamos não interrompemos com um juízo, não
interferimos com uma brincadeira, uma ajudinha, com um acréscimo, dando uma
direção ou explicação. Observar significa ficar quieto e não quebrar o silêncio
introspectivo e atento da criança. Observar significa silenciar. Nossa
tendência natural, no entanto, é o oposto disso. Quase o tempo todo realizamos
uma intervenção. Fato é que temos uma resistência em silenciar. Há um tumulto
em nós que quer se expressar, mas essa polifonia de vozes precisar ser calada.
Para isso é necessária uma transformação de si mesmo.
A
postura de um eu observador inativo, a atitude do silêncio diante da criança só
é possível quando ocorrer uma mudança dos próprios pais-educadores. Essa mudança
acontece, por sua vez, por meio da reflexão sobre si mesmo, da nossa postura e
atitude como educadores. Essa reflexão acontece quando olhamos para nós mesmos,
ou seja, por meio da observação acerca de si. Sim, quando adentramos na educação
montessoriana, inevitavelmente, há uma transformação de si que acontece ao
educar o outro, há uma observação de si que deve ser feita para poder silenciar
o observar a criança que se revela (para o observador). É, por isso, que,
sinceramente, a pedagogia montessoriana é (r)evolucionária!!