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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Ao educar, educo-me





Montessori disse que a vida dela poderia ser resumida em uma frase: “Eu descobri a criança”. Como? Ela simplesmente olhou para a criança. Observou. Em sua postura de observação deixou de lado teorias sobre a criança, pôs em suspensão os juízos, os preconceitos culturais. Tão somente pela observação ela permitiu a criança se revelar naquilo que ela é, deixou-a desvelar-se na sua essência. Como pais e educadores é fundamental nos exercitar na atividade inativa de observar, simplesmente, sem interferir. Para isso é necessário por em suspensão nossos juízos ou julgamentos, é preciso silenciar. É no silencioso observar que desvendamos a criança que existe ali diante do nosso olhar, sob a nossa proteção, envolvida pelo amor. Ela que está aí completamente presente e em sua inteireza.



A observação da vida humana que se desenvolve ao lado exige o não envolvimento, isto é, o distanciamento do observador. Exige que ele seja apenas uma testemunha dos processos da criança e que compreenda as necessidades e qualidades dela. Ao educar podemos nos tornar um eu observador quando deixamos de ser um eu ativo e intervensor, isso quer dizer, quando silenciamos. É um exercício simples mas muito difícil de realizar isso de parar e simplesmente observar. Quando realmente observamos não interrompemos com um juízo, não interferimos com uma brincadeira, uma ajudinha, com um acréscimo, dando uma direção ou explicação. Observar significa ficar quieto e não quebrar o silêncio introspectivo e atento da criança. Observar significa silenciar. Nossa tendência natural, no entanto, é o oposto disso. Quase o tempo todo realizamos uma intervenção. Fato é que temos uma resistência em silenciar. Há um tumulto em nós que quer se expressar, mas essa polifonia de vozes precisar ser calada. Para isso é necessária uma transformação de si mesmo.




A postura de um eu observador inativo, a atitude do silêncio diante da criança só é possível quando ocorrer uma mudança dos próprios pais-educadores. Essa mudança acontece, por sua vez, por meio da reflexão sobre si mesmo, da nossa postura e atitude como educadores. Essa reflexão acontece quando olhamos para nós mesmos, ou seja, por meio da observação acerca de si. Sim, quando adentramos na educação montessoriana, inevitavelmente, há uma transformação de si que acontece ao educar o outro, há uma observação de si que deve ser feita para poder silenciar o observar a criança que se revela (para o observador). É, por isso, que, sinceramente, a pedagogia montessoriana é (r)evolucionária!!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Maria Montessori





No dia 31 de agosto comemora-se o nascimento e a vida de Montessori. Quem é Maria Montessori? Uma educadora italiana que, de início, recusou-se em se tornar professora, ocupação desempenhada por mulheres não satisfeitas em restringir-se aos trabalhos do lar. Montessori desafiando os costumes e superando os preconceitos da época foi estudar matemática em uma escola técnica e, mais tarde, formou-se em medicina (1896). No início da carreira, ao frequentar o hospital de alienados, sensibilizou-se com as crianças portadoras de dificuldades especiais: crianças consideradas incapazes por deficiência mental, marginalizadas e desprezadas que ali se encontravam. Não conseguiu ficar indiferente a tal situação e, assim, tornou-se uma pesquisadora na educação. Teve a preocupação de demonstrar que crianças com deficiência mental não aprendem quando lhes falta um ambiente adequado e quando não se utiliza materiais sensoriais apropriados. Levando em conta esses dois aspectos, Maria Montessori, durante dois anos (1898-1900) educa crianças especiais e inscreve-as no exame nacional que avalia a inteligência infantil e, surpreendentemente, muitas de suas crianças apresentam um resultado melhor do que alunos das escolas regulares italianas. Inquieta com este fato busca compreender o que acontece no ensino regular e, assim, torna-se uma estudante de pedagogia e, mais tarde, professora universitária, mas, aos 40 anos a vida tratou de lhe oferecer a oportunidade de aplicar suas hipóteses teóricas (acerca da educação baseada nos sentidos e no ambiente preparado) em crianças normais e ela não hesitou. Em 1907 assume a direção da construção de uma escola – a Casa dei Bambini – e aqui, educando alunos regulares, ela descobre a criança. Intuitivamente cria o método de escrita espontânea que, por sua vez, faz com ela seja internacionalmente reconhecida e seu modelo de educação reaplicado em escolas espalhadas por diferentes partes do mundo.



Maria Montessori: psiquiatra, professora, educadora, e, sobretudo, uma grande pensadora da educação. É pela observação, primeiro, das crianças com deficiência, depois das normais que ela aprende e compreende a essência da criança, os períodos sensíveis, o processo da aprendizagem, e, assim, estrutura sua pedagogia científica, um método que respeita a criança em seu ser natural e espontâneo. Só por isso, Montessori já é uma mulher extraordinária, mas, para além disso, em suas andanças pelo mundo ela conhece Gandhi, teve o reconhecimento de Piaget e de Tagore. O reconhecimento de Piaget aconteceu quando 1929 ela funda a Associação Montessori Internacional. Na ocasião ela com 59 anos e Piaget com 33, pai de duas filhas, observador da vida que se desenvolvia ao lado e, ao mesmo tempo, formulador das teorias acerca da inteligência infantil. Já o encontro com Gandhi ocorreu, primeiro em 1931, em Londres, e, mais tarde, na Índia, no período da segunda guerra mundial, quando ela foi exilada da Itália e ficou em solo indiano por quase uma década (1939-1949), tempo em que se comprometeu com a formação de cerca de 1500 professores. Gandhi lutou durante três décadas sem violência contra o domínio inglês, e, Montessori, por sua vez, educou para a paz. Em 1925, em Nova York, Montessori encontra, pela primeira vez, aquele que se torna seu grande admirador, o fundador da escola Morada da Paz (Santhiniketon), o poeta místico e educador Tagore, prêmio Nobel de literatura (1913). Com ele, assim como depois de conhecer Gandhi, mantém contato por meio de correspondência. No período indiano, em que encontrou e se solidarizou com Gandhi e Tagore amadurece e expande o seu pensamento, passa a compreender a educação como cósmica.