Opressão,
em sentido originário, remete a sujeição, violência, força. De modo geral, a
opressão que sofremos vem de fora, do mundo exterior: do patrão, do senhor, da
classe dominante, da família, da escola. Há, entretanto, uma opressão que
reside dentro de nós e é em nome dela que ficamos presos, em nossos
relacionamentos, ao jogo de oprimir antes de ser oprimido. Conforme Paulo
Freire, é precisamente o opressor que reside em nós que precisa ser combatido e
isso se faz por meio de uma educação libertária, isto é, uma educação que não
reproduza a lógica opressor-oprimido; uma educação desse tipo não exige
submissão nem obediência, mas liberta.
A
opressão que nos pertence é a causa dos conflitos entre adultos e criança e
também daqueles que pertencem ao âmbito da relações interpessoais e das
relações que fazem parte da esfera do sistêmico, ou seja, os conflitos dos
grupos, das comunidades, enfim, aqueles da coletividade. E qual a origem da
opressão que mora em nós e que gera o conflito? A educação. Isso, no entanto,
não é apenas uma constatação de Paulo Freire senão também de Maria Montessori.
É porque, primeiro, os pais e, depois, a escola educam de maneira opressora que
a criança aprende a opressão; ela se torna opressora e reproduzirá esse
comportamento do lado de fora, no mundo exterior, nas relações que estabelece
como ser-no-mundo. Em outras palavras, se educamos a criança baseados na
opressão, quando adulto ela será vítima deste mesmo comportamento errôneo que
vem se transmitido de geração em geração.
Em
um livro chamado Il bambino in famiglia,
Montessori afiram o seguinte: nunca um escravo foi propriedade de um patrão
como a criança é do adulto. Nunca houve um servo cuja obediência fosse uma
coisa indiscutível e perpétua como aquela da criança ao adulto. Nunca as leis
esqueceram os direitos do homem como esquecem os da criança. Nunca houve um
trabalhador que deveria trabalhar assim como queria o patrão, sem apelo
possível, como a criança. O trabalhador também tem horas de liberdade e um
refúgio familiar, onde a sua voz humana ecoa em algum coração. Nunca ninguém
trabalhou como a criança, sempre submissa ao adulto que lhe impõe [...] (Pág.
11-12, tradução livre). Aqui está, portanto, a origem da opressão em nós. Ela
nasce quando desde os primeiros anos de vida os pais-educadores exercem a
autoridade sobre a criança e exigem dela total obediência, quando impõe a
vontade deles e não dão nem voz nem ouvidos a criança. Quando se colocam, por
ser adultos, como superiores e exigem total submissão, e, finalmente, quando
impõem o seu ambiente e exigem que a criança se adapte a ele, quando não
permitem ou sufocam a ação livre e espontânea da criança, quando lhe impedem de
fazer alguma coisa útil, isto é, de ocupar-se das coisas do mundo e não apenas
com seus brinquedos.
A
opressão que desde cedo sofremos e, portanto, que desde cedo aprendemos
acontece, é verdade, revestida de amor, mas não deixa de ser o que é: uma
violência que, por sua vez, reproduzimos, quando adultos, na nossa relação com
os outros, relação que é conflituosa justamente porque se baseiam na lógica do
opressor-oprimido ou submisso-insubmisso. Quando livramos a criança da opressão
criamos a oportunidade da criança aprender sobre a paz e, quando adulto, ter
relacionamentos pacíficos ao invés de conflituosos. Segundo Montessori, se a
origem do conflito está na opressão também é aqui que encontramos a origem da
paz, então, quando educamos a criança sem opressão, educamos para a paz.