Como
mãe que amamenta estou a serviço da espécie (como diria Simone de Beauvoir),
mas com amor isso não é uma escravidão. Servir ao outro é maior do que servir a
si mesmo, é doação. Há uma fusão que naturalmente existe entre mãe e filha e
que é nutrida na doação, pelo amor. Não é só o leite do peito o alimento senão
também o amor que nos conecta, que nutre o corpo e o espírito, que nos une. No nosso
amor há unidade e é por isso que amamentar é sentir-se um com o outro.
A
ação de amamentar no sentido de servir - quando ela é livre (demanda) - nos
exige estar à disposição do outro o tempo todo, de dia e de noite. A criança
procura o peito quando tem fome, mas também quando precisa de atenção, de
carinho, de proteção. Para além de alimentar, o peito é aconchego, é
acolhimento, é remédio. Quando está frustrada ou entediada diante em uma
situação a criança procura o peito. Quando se irrita, busca o peito. Quando
quer colo, pede peito. Quando se machuca, o alívio vem do peito ...
Contudo,
AMAmentar dói, dói no início e no fim, principalmente quando dura o tempo da
nossa fusão, isto é, mais ou menos dois anos. Depois de dois anos já não temos
um peito abundante, já não temos a mesma disposição e prazer em estar aí
servindo o tempo todo. Ás vezes até sentimos certa irritação porque já não
queremos mais ainda que a criança continue querendo, vivenciamos um conflito
interno e externo. Certamente, a indisposição e o desprazer é um sinal da
natureza de que já basta, já é o suficiente. É, portanto, o desmame da mãe que
primeiro precisa acontecer para daí a criança de maneira natural
desinteressar-se e encontrar outras fontes de prazer e compensação além do
peito. Tal desmame tem a ver com um desprendimento da imagem que criamos de nós
mesmas como sendo insubstituíveis e sustentadoras da vida; tem a ver com um
reinventar-se como mulher, agora, sendo mãe.
Quando
a fusão emocional já não mais existe, quando a mãe consegue se ver como sendo
algo a mais do que somente aquela que serve à vida, daí sim, a criança
naturalmente percebe a si mesma como distinta da mãe, compreende que o peito,
na verdade, não é dela, mas da mãe. Compreende que não é só o peito que
alimenta e sacia, que se quer colo e carinho basta pedir; compreende que um
beijo cura e alivia a dor, que um abraço ameniza a frustração e a irritação;
sente que o amor não se limita a união criada no peito, mas está além dele,
transcende-o. E, é assim que, por aqui, acontece o desmame natural e gradativo,
de modo gentil e amoroso.