Dervixes
é o nome dado a ordem dos dançantes ou girantes e seu fundador é Rumi, o
místico poeta persa. É do encontro entre Rumi e o seu mestre, o sol de Tabriz -
dizem que foi o encontro entre dois oceanos – que nasce o que conhecemos como
sufismo. O sufismo é a ordem dos dançantes (girantes) porque nele se utiliza a
música, o ritmo e o giro como ferramentas para encontrar o êxtase místico, em
outros termos, uma experiência de unidade. Em ordem, do ritmo lento ao mais
veloz, circundando um centro, gira-se e gira-se ... girando encontra-se o
estado fora do tempo, a presença. E na roda que gira por horas permanece no
giro quem transcende o próprio girar, o dançar rodante, o círculo que é dado
nas incontáveis voltas. Para chegar aqui, para transcender o círculo é preciso
entregar-se ao rodar, à dança. A entrega envolve o abrir mão do controle (que é
uma ilusão). Com a perda do controle há uma aceitação do (descontrole) que
acontece e a dissipação dos papéis, isto é, do ego.
Penso
que o tempo, o nosso tempo, compartilha da mesma circularidade ou ciclicidade
da dança dos dervixes. Desconfio que o tempo é cíclico e não linear como nos
ensinaram. Pense na história: há ascensão de direita e tempos de ascensão de
esquerda; há corrupção combatida que retorna num outro momento (tempo); há
golpes que vão e vem e mudam o cenário histórico (tempo) que acontece. Pense na
própria história, na sua história de vida ... no samsara. Outra percepção de
que o tempo é cíclico pode acontecer quando olhamos para a natureza: há nela
ciclos que acontecem e eles são muitos! A vida e a morte é uma bela
manifestação da ciclicidade do que tem vida, da ciclicidade do tempo. O tempo
cíclico também é a essência do próprio mundo sensível, do nosso mundo, do mundo
dual, em outras palavras, o mundo dos opostos. Onde há dualidade, opostos: bem
e mal, bom e ruim, positivo e negativo, luz e trevas, prazer e dor ... há
ciclicidade. O mundo físico é dual, portanto, nem um pouco linear.
Par
além do pensamento e dessas palavras podemos vivenciar o tempo cíclico em nós:
a mulher em seus ciclos lunares e, portanto mensais e o masculino em seus
ciclos solares e, portanto, conforme as estações anuais. Experencio em meus
ciclos lunares a rotação, o movimento de vai e vem dos pensamentos, das
emoções, dos comportamentos. Há tempos de introspecção e de criação. Ora é
tempo de interiorização, ora é tempo de exteriorização – de expressar a si
mesma numa atividade do mundo. Ora é tempo de ação noutro agora de repouso. Os
ciclos em mim acontecem no âmbito físico, no mental e das sutilezas. O tempo
que sou é cíclico, o tempo do mundo onde vivo é cíclico, mas, é possível a
transcendência da ciclicidade? Obviamente!
Do mesmo modo que os dervixes girantes,
podemos encontrar o estado de tranquilidade da alma de Sêneca, de serenidade do
mestre Eckart, de equanimidade conforme o Vipassana, enfim, o estado de
presença no ir além da ciclicidade ou por meio da transcendência dos ciclos.
Assim como para os dervixes para chegar até aqui, isto é, para realizar a
transcendência é preciso entrega, é preciso abrir mão do controle e compreender
que para além da nossa vontade, há uma vontade maior. A entrega envolve uma
abertura metafísica, o que quer dizer, um reconhecimento de que há uma ordem
maior, uma inteligência superior conduzido os acontecimentos da vida. Isso, no
entanto, é precedido de algo mais básico, que é a percepção e a tomada de
consciência dos ciclos acontecendo. Com a percepção dos ciclos inicia-se o
trabalho de superação, de colocar-se além, de transcende-los no seu ciclo no
corpo, na mente, no sutil. O tempo cíclico é superado pelo presente. A presença
é a transcendência na imanência!
Nenhum comentário:
Postar um comentário