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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Maternidade adentro

 


Escrevendo os momentos densos, dedicando tempo, fazendo o possível para que quem leia na simplicidade se sinta um pouco mais compreendida pois no dia a dia as vezes a gente precisa de um montão de forças para maternar. Esse é um caminho que se compartilha, mas, ao mesmo tempo, é único. Cada mãe vive as suas tensões, dores, delícias e desafios do maternar em uma sociedade do cansaço, do desempenho e do esgotamento.

Como mãe partilho sobre o desafio e a importância de, nos tempos de hoje, colocar o limite. Seja no maternar solo ou dentro do casamento, seja como mãe de coração ou de criação o limite é necessário. Mas, o limite que aqui me refiro não é somente aquele que é necessário colocar na educação que damos para o (s) nosso(s) filhos, mas também aquele limite que como mãe dou a mim mesma para assim viver uma maternidade saudável.

Quando se trata do limite dado a uma criança, existe no maternar um excesso de permissividade e liberdade ou um excesso de rigidez e domínio. Independentemente de onde você se encontra, saiba que colocar um limite é bastante difícil. Entretanto, o limite é necessário para que a criança cresça saudável socialmente, psicológica e emocionalmente. Ele precisa vir do adulto porque a criança ainda não sabe como colocar um limite em si mesma. Mas o que questiono é: de que lugar, ou melhor, de que estado interior está sendo colocado ou não o limite na criança?

Como mães vivemos em uma sociedade do cansaço e penso que somos as maiores vítimas dessa sociedade. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han afirma que a sociedade do cansaço é a sociedade do desempenho e, portanto, gera um esgotamento excessivo. Explico melhor: se existe uma sobrecarga materna devido ao acúmulo de funções, ou seja, pelo fato da mãe ter de cuidar da casa, dos filhos, do casamento e ainda dar conta de complementar a renda familiar, atualmente, além da sobrecarga existe a cobrança pelo alto desempenho. É preciso dar seu máximo e ser boa em todas as funções que temos.

Como mães, na sociedade do desempenho, sentimos a exigência de produzir cada vez mais e melhor, vivemos constantemente um sentimento de carência e de culpa. Isso não tanto porque o outro do lado de fora nos cobra ou nos culpa, mas sobretudo porque nós mesmas nos cobramos sempre por mais e melhor assim como nos culpamos por não dar nosso melhor. Na sociedade do desempenho a mãe torna-se aquela que cobra dela mesma, isso quer dizer, ela explora a si mesma. No mundo do trabalho, regido pela força do desempenho, a mãe sofre de uma auto exploração e uma sutil auto violência.

Na sociedade do cansaço e do desempenho, a mãe precisa, então, colocar um limite a si mesma para manter a sua sanidade física e mental. O limite serve para ela não se cobrar demais por eficiência, por perfeição, por alto desempenho. É preciso o limite para evitar o esgotamento excessivo e outros adoecimentos psicológicos. O limite é dizer não ao esgotamento, é dizer não a auto exploração, é dizer não a essa violência sutil que praticamos em relação a nós mesmas. É viver sendo mãe e sem se cobrar pela perfeição, sem sentir que está em falta, sem exigir tanto de si mesma, sem viver de modo tão acelerado.

Desconfio que é de um lugar de falta de limite, e, portanto, de excesso de exigências sobre si e de um lugar de cansaço que se colocam os limites ou não na vida dos filhos. Muitas mães por trabalharem excessivamente, por cobrarem demais de si, por estarem cansadas tornem-se permissivas. E, do mesmo lugar, outras mães, para ter controle e dar limites tornam-se mais mandantes ou autoritárias usando de proibições e recompensas. Contudo, o limite, como aquilo que dá saúde para a mãe e contorna o caminho da criança, esse limite precisa vir de um estado interior de calma e amorosidade.

No esgotamento do dia a dia é questão de saúde encontrar dentro de si um estado interior não de esgotamento e de raiva, mas de calma e amorosidade. É desse lugar que deve ser colocado o limite em relação a criança e em relação as auto cobranças. Mas, como nós mães podemos chegar até aqui? O que pode ajudar a encontrar um lugar saudável para colocar o limite necessário é praticar yoga, buscar uma terapia (por ex. constelação familiar), meditação, a medicina do cacau ou escrever. Dentro de uma sociedade de vidas aceleradas e desesperadas, isso é um tempo de qualidade que toda mãe pode dar para si.

O que ainda pode ajudar a encontrar um lugar interior não de esgotamento, estresse, cansaço, é não aceitar ser ou tornar uma mulher esgotada por almejar o alto desempenho e a perfeição como profissional, mãe, esposa, amante. Talvez seja preciso uma dose de aceitação da condição de Ser humana e outra dose de coragem para ser imperfeita! Também percebo que é preciso ter um compromisso com os bons pensamentos. Ao cultivar bons pensamentos você se conecta com as suas boas ações, reconhece os seus esforços como mãe dentro da sociedade em que vive.


Por fim, sei que a maternidade é um caminho só de ida e para andar para frente e bem é preciso antes de tudo colocar limites.   Se faz isso a partir de um espaço interior saudável, se faz isso para poder viver melhor. Sei que cada maternar é único, e, assim, é do meu singular maternar que partilho essas reflexões sobre limite, amorosidade e maternindade. Espero que quem leia, em sua singularidade materna, sinta-se e viva um pouquinho melhor!

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