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sábado, 12 de abril de 2025

Concomitância


Vanessa de Carvalho da Silva  

Não quero saber

dos amores que não deram certo

nem das desilusões e desafetos

Não quero saber

de nós

nem dos nós do amor consolidado

Quero o que é vivo

E vive no presente

O agora de estar contigo

Existindo

O agora ...

que é o vazio 

cheio da nossa 

PRESENÇA

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Impermanências

 


Deixar tudo fluir, dói

Aceitar tudo tal como é, dói

Viver consciente de que tudo passa, dói

A impermanência, dói

Dói porque o que é bom a gente quer reter

Dói porque a gente quer fazer ser eterno

Dói porque a gente se apega

Dói porque a gente quer mais do mesmo

Dói porque a gente gosta do encontro sem a despedida

Dói porque o vivido não volta mais

Dói porque tudo o que é prazeroso acaba 

no próprio gozo

Dói, mas justo por causa dessa dor

 a gente vive com mais presença

Atentos à vida, à impermanência e a sua dor

A gente percebe que é porque tudo muda 

que o novo sempre vem!




sexta-feira, 22 de novembro de 2024

A equação do amor

 


Sim, antes eu queria ...

Mas, já não me importo em te mandar mensagem

nem penso muito em ti

Já não me importo com teu gosto musical,

nem sinto vontade de partilhar contigo a música que gosto

Já não me importo se olha meus stories

nem se demora para dar uma resposta

Já não me importo em saber onde andas

nem com quem e onde

O que me importa é que ao estar comigo,

seja presença

que celebra o instante.

Mas, já não me importo se diminuir a frequência

 em que nos vemos desvestidos

Já não me importo se te tornares mais escasso

pela tua falta de disponibilidade e disposição

Já não me importo se não lembras de mim

nem sonha comigo

Um amor assim, tão cheio de desimportâncias,

é expandido

Mas, se te amo mais porque me importo menos

Se te quero menos (pra mim) porque te amo mais

Então, por ser assim, é um amor 

contraditório!


terça-feira, 25 de junho de 2024

...

 


Vens tu

com o encaixe perfeito

a ressignificar o amor

Se outrora

aprendi sobre

amor livre, sem posse

Agora,

ensina-me sobre

amar sem invadir

Há espaços que não me cabem!

 

Se não fosses tu

não enxergaria muitas coisas que vejo

Agora,

não me convidas para entrar

em tua vida todos os dias

Na desimportância

ensina-me sobre

amar sem depender

Há dependências que são mendicâncias afetivas!

 

Ensinas, tu, sobre mim

amplia-me...

Mas digo-te:

o amor transcende

tudo isso que aprendo

Amor

é um estado interior

que se instala pela

Presença

que vê e toca teus detalhes,

te escuta e sente

Nessa PRESENÇA

o amor  é agora!

Nele tudo mais, é menos.

 





segunda-feira, 29 de abril de 2024

Maternidade adentro

 


Escrevendo os momentos densos, dedicando tempo, fazendo o possível para que quem leia na simplicidade se sinta um pouco mais compreendida pois no dia a dia as vezes a gente precisa de um montão de forças para maternar. Esse é um caminho que se compartilha, mas, ao mesmo tempo, é único. Cada mãe vive as suas tensões, dores, delícias e desafios do maternar em uma sociedade do cansaço, do desempenho e do esgotamento.

Como mãe partilho sobre o desafio e a importância de, nos tempos de hoje, colocar o limite. Seja no maternar solo ou dentro do casamento, seja como mãe de coração ou de criação o limite é necessário. Mas, o limite que aqui me refiro não é somente aquele que é necessário colocar na educação que damos para o (s) nosso(s) filhos, mas também aquele limite que como mãe dou a mim mesma para assim viver uma maternidade saudável.

Quando se trata do limite dado a uma criança, existe no maternar um excesso de permissividade e liberdade ou um excesso de rigidez e domínio. Independentemente de onde você se encontra, saiba que colocar um limite é bastante difícil. Entretanto, o limite é necessário para que a criança cresça saudável socialmente, psicológica e emocionalmente. Ele precisa vir do adulto porque a criança ainda não sabe como colocar um limite em si mesma. Mas o que questiono é: de que lugar, ou melhor, de que estado interior está sendo colocado ou não o limite na criança?

Como mães vivemos em uma sociedade do cansaço e penso que somos as maiores vítimas dessa sociedade. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han afirma que a sociedade do cansaço é a sociedade do desempenho e, portanto, gera um esgotamento excessivo. Explico melhor: se existe uma sobrecarga materna devido ao acúmulo de funções, ou seja, pelo fato da mãe ter de cuidar da casa, dos filhos, do casamento e ainda dar conta de complementar a renda familiar, atualmente, além da sobrecarga existe a cobrança pelo alto desempenho. É preciso dar seu máximo e ser boa em todas as funções que temos.

Como mães, na sociedade do desempenho, sentimos a exigência de produzir cada vez mais e melhor, vivemos constantemente um sentimento de carência e de culpa. Isso não tanto porque o outro do lado de fora nos cobra ou nos culpa, mas sobretudo porque nós mesmas nos cobramos sempre por mais e melhor assim como nos culpamos por não dar nosso melhor. Na sociedade do desempenho a mãe torna-se aquela que cobra dela mesma, isso quer dizer, ela explora a si mesma. No mundo do trabalho, regido pela força do desempenho, a mãe sofre de uma auto exploração e uma sutil auto violência.

Na sociedade do cansaço e do desempenho, a mãe precisa, então, colocar um limite a si mesma para manter a sua sanidade física e mental. O limite serve para ela não se cobrar demais por eficiência, por perfeição, por alto desempenho. É preciso o limite para evitar o esgotamento excessivo e outros adoecimentos psicológicos. O limite é dizer não ao esgotamento, é dizer não a auto exploração, é dizer não a essa violência sutil que praticamos em relação a nós mesmas. É viver sendo mãe e sem se cobrar pela perfeição, sem sentir que está em falta, sem exigir tanto de si mesma, sem viver de modo tão acelerado.

Desconfio que é de um lugar de falta de limite, e, portanto, de excesso de exigências sobre si e de um lugar de cansaço que se colocam os limites ou não na vida dos filhos. Muitas mães por trabalharem excessivamente, por cobrarem demais de si, por estarem cansadas tornem-se permissivas. E, do mesmo lugar, outras mães, para ter controle e dar limites tornam-se mais mandantes ou autoritárias usando de proibições e recompensas. Contudo, o limite, como aquilo que dá saúde para a mãe e contorna o caminho da criança, esse limite precisa vir de um estado interior de calma e amorosidade.

No esgotamento do dia a dia é questão de saúde encontrar dentro de si um estado interior não de esgotamento e de raiva, mas de calma e amorosidade. É desse lugar que deve ser colocado o limite em relação a criança e em relação as auto cobranças. Mas, como nós mães podemos chegar até aqui? O que pode ajudar a encontrar um lugar saudável para colocar o limite necessário é praticar yoga, buscar uma terapia (por ex. constelação familiar), meditação, a medicina do cacau ou escrever. Dentro de uma sociedade de vidas aceleradas e desesperadas, isso é um tempo de qualidade que toda mãe pode dar para si.

O que ainda pode ajudar a encontrar um lugar interior não de esgotamento, estresse, cansaço, é não aceitar ser ou tornar uma mulher esgotada por almejar o alto desempenho e a perfeição como profissional, mãe, esposa, amante. Talvez seja preciso uma dose de aceitação da condição de Ser humana e outra dose de coragem para ser imperfeita! Também percebo que é preciso ter um compromisso com os bons pensamentos. Ao cultivar bons pensamentos você se conecta com as suas boas ações, reconhece os seus esforços como mãe dentro da sociedade em que vive.


Por fim, sei que a maternidade é um caminho só de ida e para andar para frente e bem é preciso antes de tudo colocar limites.   Se faz isso a partir de um espaço interior saudável, se faz isso para poder viver melhor. Sei que cada maternar é único, e, assim, é do meu singular maternar que partilho essas reflexões sobre limite, amorosidade e maternindade. Espero que quem leia, em sua singularidade materna, sinta-se e viva um pouquinho melhor!

sexta-feira, 22 de março de 2024

OUTONAR-SE



É fechar as portas para o lado de fora!

Enquanto vivo fora de mim

aproveito para expandir com

a imensidão azul do céu e do mar

e para deixar outras coisas à mostra ...


Quando entro para dentro

vou em direção a mim, contraio-me.

Aproveito para olhar para as emoções, 

para aquilo que é preciso deixar ir

com a leveza das folhas que caem.

É tempo de decidir o que pode ficar.


Outonar-se é sobre isso:

 ir da expansão do verão para o ritmo de contração.

É deixar uma parte de si do lado de fora 

e outra metade do lado de dentro. 

É ir de fora para dentro!




quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Amor Líquido ou Sólido? (Reflexões filosóficas sobre o amor)

    Zygmunt Bauman, um dos grandes sociólogo do nosso tempo, descreve sobre a flexibilidade e a fragilidade das relações afetivas em um livro chamado Amor Líquido. Aqui ele caracteriza o que é o amor líquido vivido nos tempos de hoje, sinaliza o que impede e o que constrói um amor sólido. Entretanto, para compreender sobre o amor não basta ler Bauman, porque, na verdade, não posso aprender o amor, é preciso a experiência. 




       Pouco se fala sobre o amor líquido, mas se vive. Fala-se muito mais em amor livre, diz-se até que amor livre é um pleonasmo já que se tratando de amor, por si só, ele já é livre. Sim é livre enquanto aquilo que sinto e dou ao outro, mas quando se trata de uma relação de amor entre parceiros sexuais a liberdade pode ser libertinagem e uma das faces do amor líquido. Neste caso, o amor pode ser tão livre que não apenas lhe falta limites, prefiro dizer, contornos mas também dispensa a responsabilidade afetiva. Sinto que, dar um contorno ao amor que doo ao outro de forma livre e espontânea, gera segurança. A questão é: quem põe o limite? Se vier de fora, do outro que é o parceiro da relação amorosa, pode parecer ou e até ser uma forma de controle. O limite, então, precisa vir de dentro. Eu, o sujeito que dá o amor, é quem dá o limite. Ele sabe e diz até onde o outro pode ir. Isso tem a ver com os seus valores e com o quanto aprecia de si mesmo, o quanto está disposto a se ferir ou até aceitar um certa violência sutil, em nome do amor livre. Os limites na relação amorosa são, na verdade, vitais porque permitem ao outro saber quem você é. Em última instância, colocar limites é um ato de amor a si mesmo. 
        Quando existem os contornos na relação amorosa entre parceiros sexuais há segurança. A segurança, por sua vez, é a base do amor sólido, que pode acontecer tanto numa relação monogâmica quanto numa relação não monogâmica ou aberta. Sem segurança existe pouca entrega. Entregar-se ao outro nos torna vulneráveis e só se faz isso quando a gente se sente seguro. É a segurança no relacionamento amoroso entre parceiros sexuais que garante a qualidade da entrega. Se a segurança é a sustentação do amor sólido, a insegurança, por sua vez, é o que fundamenta o amor líquido. 
        O amor quando é líquido evita os contornos da liberdade. Não há necessidade de explicar ou justificar nada. Por não ser necessário dar muitas explicações sobre os comportamentos, quereres e sentires, cria-se silêncios. O amor líquido é cheio de pequenos silêncios, que dizem tudo e ao mesmo tempo nada. Por esse motivo, no amor líquido há um fracasso na comunicação. É possível se relacionar com quem a gente não conversa? Ou conversa muito pouco, mais para contar sobre coisas alheias e quando se trata de si, da relação, silêncio... Enganosamente, pode-se considerar o silêncio uma maneira madura de lidar com a situação, mas silenciar te permite fugir de muita coisa, te faz criar e alimentar versões próprias sobre os fatos. Cria-se assim insegurança, angústia, ansiedade, solidão. Nesses termos, quando o amor termina nem é preciso uma conversa final tampouco dar explicações, basta deixar de seguir nas redes sociais e bloquear o número no celular. 
        A insegurança gerada pelo amor é como areia movediça, nela não se consegue construir nada. Aqui se tem tudo e, ao mesmo tempo, nada. Na insegurança, o amor é fluido. Em função disso, não se sabe se está ou não com quem partilho a cama, nada se sabe sobre estar ainda juntos amanhã. No amor cuja base é a insegurança não se alimenta a esperança de querer dar certo, antes o contrário, alimenta-se o pensamento que a qualquer momento o amor da relação com o parceiro pode acabar. Nesse tipo de relação líquida, por um lado, me desmotivo por não saber se estou ou não com o outro e, por outro lado, com o fato de ter de constantemente agradar o outro para que ele continue querendo estar comigo. É uma preocupação do amor líquido querer agradar constantemente o outro que, em tempos virtuais, gosta da novidade. 
        Tal como na tela, na vida real também passa-se a amar tão somente a novidade. Quando se é movido pelo anseio do novo sem hesitar troca-se qualidade por quantidade, ainda que, assim, não se preencha o vazio ou o deserto existencial que vive dentro. Bauman sinaliza que no amor que quer novidade a todo momento o desejo vai perdendo espaço pelo impulso. Pelo impulso do querer, salto com facilidade e rapidez de afeto em afeto, aumento a rede de contatos, aumento a velocidade, acelero e a relação amorosa sexual se torna rasa. O amor líquido, por ser permeado de impulso, facilidade e aceleração é inseguro. E, quem convive com a insegura sempre espera pelo fim. 
        Quando a mentalidade de que a relação amorosa pode acabar a qualquer momento se sobrepõe, quase desparece a esperança de querer fazer dar certo. Afinal, se amanhã com facilidade e sem muitas razões tudo pode acabar não há porque esperar, fazer qualquer investimento ou sacrificar a própria vontade diante do outro, o parceiro amoroso sexual. Na relação líquida o “eu quero” e o “eu posso” torna-se uma necessidade. Pensa-se: tenho direito de viver as minhas experiências doa a quem doer. E o outro que divide a cama comigo precisa entender e aceitar isso. Não raro, um relacionamento desse tipo está fundado e uma furiosa individuação. 
        A máxima individuação funciona assim: apareceu a oportunidade, por que não aproveitar? Sento impulso, porque não me experenciar. Sim a escolha que faço pode machucar o outro mas o que importa sou eu, importa o que eu quero nesse momento, importa o que acho que é importante pra mim viver e doa a quem doer. É visível, no amor líquido há um egoísmo extremo, uma furiosa individuação. Não existe neste tipo de amor o sacrifício entendido como sendo o abrir mão de algo por amor ao outro ou para evitar causar danos ao outro. É egoísta porque não há a preocupação de abrir mão de si, do seu querer, da experiência que se tem a possibilidade de vivenciar. Na relação amorosa líquida cada um é um e livre para viver as experiências que quer viver sem olhar outrem e além. 




        Contudo, assim como Rupi Kaur nos mostra que há “outros jeitos de usar a boca”, e, do mesmo modo, há outros jeitos de amar. Não é porque vivemos na modernidade líquida que a relação afetiva amorosa precisa ser líquida. Uma relação amorosa sexual não precisa ser líquida porque pode ser sólida. E, quando se trata de amor sólido, Bauman nos diz o seguinte: esse amor se constrói com tempo, investimento, sacrifício (esforço) e comunicação. Para evitar mal entendidos aqui, é preciso deixar claro que investimento, não implica em um sustentar o outro. Está relacionado com tempo de qualidade e apreciação da vida juntos e isso envolve a energia do dinheiro. Do mesmo modo sacrifício não tem aqui a conotação religiosa, isto é, não deve ser entendido dentro de uma perspectiva da religião católica e sim no seu sentido originário. Sacrificium, do latim, que significa renuncia voluntária (a algo, alguém importante ou a si próprio). Isso tem o sentido de ofício sagrado, ou seja, é uma ação sagrada o esforço de abrir mão de si, da sua vontade. Parece-me que esse ato sagrado é o que garante uma relação seja amorosa ou não. Se não há um abrir mão de si em toda e qualquer relação não existe apenas um conjunto de eus desconectados?
          Para finalizar quero ampliar ainda mais a compreensão moderna do amor com a constatação de que o amor sólido não exige um relacionamento monogâmico. Pode ser construído também em um relacionamento não monogâmico, desde que lhe seja dada a base para crescer que é a segurança. O mais difícil, contudo, é compreender que para se ter um amor sólido é preciso criar segurança mas sem garantia, é preciso sacrificar vontades mas sem garantia, é preciso a esperança do querer fazer dar certo, mas sem garantias. E a vida, afinal, no fundo também é isso: viver sem garantia!