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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Seres encantados em um lugar chamado Rodeio Bonito



Era madrugada, fria, do dia 23 de maio e, eis, os primeiros participantes do acontecimento, PDC+20. Na cidade conhecida como Rodeio Bonito, o evento foi chamado de Planejamento Sustentável isso porque era necessário ter uma compreensão do que aconteceria nos próximos dias e, assim, uma aceitação. Evitou-se falar em PDC antes do acontecido, pois, isso  soava estranho e mais parecia uma sigla de um novo partido político do que a abreviação de um curso que tem o poder de provocar a (r)evolução na vida dos participantes, o Curso de Design em Permacultura.


Eles  eram os poucos dos muitos que foram chegando: bichos-grilo, alternativos, barbudos, cabeludos, agricultores, professores, estudantes, vindos de várias regiões do Brasil. Seres que, se ainda não eram, logo, logo, se tornariam permacultores. Possivelmente foram considerados seres estranhos: eram coloridos, alegres, festivos, artistas, brincalhões, criativos, vivos, andantes, cantantes, dançantes e um pouco daquilo que a sua imaginação consegue criar.





E, por serem estranhos ao olhar de gente comum, esquecidas das coisas da vida (acostumadas a não ouvir passarinho, a não colher fruta no pé, a não subir em planta, a não saudar o sol e reconhecer a amplidão)  também pareciam gostar de coisas estranhas: de mato e fogueira, de tomar banho de rio, de andar descalços, de subir em árvores, deitar na grama e sobre pedras e, principalmente, das comuns, insignificantes e doces bergamotas. Sim, eles se tornaram os descobridores do encanto das bergamotas. E de tanto que gostaram não esqueceram de guardar um espaço pra elas na mochila que iria nas costas no retorno ao lar.








Costumavam fechar os olhos sem ter sono, só pelo prazer de sentir: o cheiro, o vento, o sol, a energia em sua dança. Costumavam distribuir abraços, transpiravam amor, transmitiam tranquilidade (ou seria serenidade?). Era comum vê-los com um leve sorriso no rosto, rostos belos, doces, cativantes. Eram crianças alegres, irmãos (não de sangue, mas de coração), juntos eram um, formavam uma família.






De tanto parecer ser um, uma família, ouvi a seguinte pergunta: e depois, para onde vocês vão? Não foi difícil explicar, mas foi difícil para o questionador entender que depois (no tempo que ainda resta) cada um segue o seu caminho com, quem sabe, a fortuna de uma (re)união acontecer.


Se foram julgados? Não sei. Se foram admirados? Sim, claro que foram alvo de espanto e admiração, por ser exatamente o que eram: conectados às forças da natureza, felizes em sua simplicidade,  mágicos em sua criatividade, fraternos em sua irmandade, cheios de amor e gratidão no coração. Mas, nem sempre conseguiram compreender o porquê do tamanho da admiração e do seu sucesso, pois, não estavam sendo nada mais do que aquilo que naturalmente são.

 
E como tudo é movimento ... os dias passaram, o tempo passou, e, a hora de brincar naquele tempo acabou. Foi feito o círculo de despedida e nele ouvi de um simples e iluminado ser o seguinte: chegamos aqui vazios e saímos igualmente vazios porque a vida é isso, o fluir. Sim, na hora, concordei. Somos o meio pelo qual tudo flui, se transforma, nada podemos e devemos reter. Mas agora, contrariando a lógica, percebo que o contrário também é verdadeiro: nós chegamos cheios, pois deixamos nossas marcas lá, em quem ficou tanto como em quem partiu e, por outro lado, saímos, igualmente, cheios: de conhecimento e aprendizado, amor e gratidão. Fato é que permanecemos cheios: de lembranças e de saudades.











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