O sol deixa de reinar por
mais um dia ... antes da lua aparecer soberana noite à dentro volto para casa,
mas na mente lateja a lembrança daquilo que todos os dias vejo: a corrida diária
dos consumidores ... consumidores que entram e saem das lojas ávidos por
produtos ou preocupados em pagar o que já esqueceram ter consumido. Fato é que
vivemos tentando ser felizes, mas gastamos a vida (o bem mais precioso)
trabalhando ... trabalhando ... para consumir ... consumir ... e sumir. A
felicidade está atrelada ao consumismo e quando acordamos, quando abrirmos os
olhos, vemos que reduzimos a vida a isso; é em função disso que a vida se esvai.
Se foi por fortuna? por sensibilidade? por inquietação? por inconformidade? pelo
non sense? Não sei ... fato é que
despertei à tempo, antes da minha vida estar perdida. Quando despertei uma das
primeiras atitudes foi revisar o meu modo de vida. E, foi assim, que senti a
urgência de fugir para ser outro, para aprender a ser diferente, para mudar meu
modo de ser (estar) no mundo. No entanto, por respeito ao ritmo da vida, aos
sinais dos tempos, por ter aprendido a não ir contra à natureza, por permitir o movimento natural das coisas fiquei aqui onde estou sem, no
entanto, deixar de mudar o que sou, meu habitus insustentável. Eu não vou, mas o tempo (de mudança) vem ... aqui, onde estou.
Não sei se aconteceu,
primeiro, uma alteração da percepção da realidade que provocou uma alteração em
meu modo de ser ou se ocorreu o contrário. É difícil
saber exatamente como se dá a mudança porque enquanto se está no processo não
se sabe estar e, portanto, não há uma experiênia consciente do que acontece. Se
percebe só mais tarde o acontecido, mas daí é
tarde porque se olha com os olhos de hoje para o ontem e “quando o ser humano
resgata seu passado, o distorce, acrescenta invariavelmente cores e sabores” (Cury).
Mesmo sem saber, ao certo, como me encontro no estado que estou o que sei dizer
é que a busca por um modo de vida mais sustentável reencantou meu mundo e a
certeza que tenho é que quando passamos a nos preocupar mais com a natureza o
que encontramos, em primeiro lugar, é mais felicidade. É uma felicidade
diferente daquela que temos como quando compramos.
Quando se começa a andar
descalço, a deitar na grama, a olhar pro céu, a sentir o vento e o sol bater no
rosto, a festejar o cair de uma semente, a concentrar-se na dança das folhas, a
por a mão na massa para construir a horta, a espiral de ervas, o círculo
de bananeiras, o jardim, enfim, quando se começa desejar o simples: uma vida
simples, uma casa simples, uma decoração simples, um vestir-se simples, uma
alimentação simples, um viver descomplicadamente simples, passamos a ter uma
felicidade simples, que é mais completa, duradoura. Sim a felicidade mora na
simplicidade: do ter, do ser, do fazer e, igualmente, do sentir.
A conexão com (as forças da)
a natureza além de proporcionar a felicidade dá o conhecimento necessário para mudar a si
mesmo, o próprio
mundo e, é assim, que nos tornamos, nós mesmos, a mudança que queremos ver no mundo. É uma mudança
processada pelo ato de permaculturar. Sim, ainda que sem saber, muitos de nos
andamos por aí nos encontrando porque estamos permaculturando. Foi o
que aconteceu comigo, praticava a permacultura sem saber, seguia os seus
principios sem conhecer. Agora, o conhecimento só aprimora o meu ser e fazer. Percebo que sou outra não
apenas no meu modo de ser no mundo, mas, para além disso, em meu
ser-com-os-outros. A conexão com a natureza (ou seria reconexão?) também me
tornou mais humana e isso se reflete, claramente, em meu ser social. Apesar de
tudo ainda sou aprendiz ...
No caminho em que ando, o
caminho da permacultura, aos poucos sinto a minha sensibilidade florescer. Ainda
tenho dificuldade em desacelerar o passo, dilatar o tempo, em degustar lentamente
o espetáculo que a natureza oferece. São coisas que ainda faço não naturalmente,
mas pela lembrança da consciência. Por outro lado, já aprendi o valor da gratidão e do amor, já reaprendi a
respirar profundamente para me encher de “anima”.
O que, na verdade, me foi ensinado a muito tempo por meu pai, uma pessoa que
nada sabia de permacultura, mas a praticava quando respeitava e admiriava não só a terra que produz, mas tudo
o que a natureza oferece; que nada sabia de meditação, mas a praticava todas as
manhãs, cedinho, ao abrir as portas e janelas da casa, e, de olhos fechados, me
convidava a deixar o ar entrar em mim. Ele, silenciosamente, celebrava o dia e,
provavelmente, agradecia por mais aquele dia de vida. Bem, se para ser feliz
basta buscar a simplicidade, para sentir grandes prazeres, como disse Cury, é
preciso pouco, muito pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário