Tatiana Palm
Há um incomodo e uma revolta em mim de ver meu país assim: despedaçado, sucateado, passivo, distraído, em retrocesso, inconsciente dos fatos concretos, alienado da realidade. Como posso ficar indiferente? Como posso fingir não me importar? Há um governo ilegítimo e livre que aprova e desaprova o que julga ser “melhor” para o povo. Melhor do ponto de vista de quem? Certamente de uma minoria gananciosa e egocêntrica que anda por aí com os bolsos cheios mas não satisfeitos e por querer possuir desejam mais, mais e mais. Me pergunto, o que aconteceu com o povo brasileiro? Por que está calado? Estaremos virtualmente vivos demais e concretamente mortos? Onde estão as organizações sindicais que representam os interesses dos diferentes segmentos da população? Estarão todas corrompidas e/ou ocupadas demais consigo mesmas e com sua sobrevivência? Onde estão os filhos dos caras pintadas? Os netos dos que lutaram contra a ditadura? Me convenço que somos um povo sem consciência política, que não sabe lutar se não há quem nos induza, organize e mobilize. Parece que, de modo geral, somos bestas adestradas, só reagimos quando nos conduzem e induzem à reação.
Já a algum tempo o discurso de
líderes espirituais anuncia tempos sombrios para este meu país. Contudo, advertem
que toda revolta que se expõe do lado de fora é um reflexo de uma luta
interior. Sim, nos alertam que em tempos sombrios é para dentro que, primeiro,
devemos nos voltar e perguntar por que o mundo tal como está nos incomoda
tanto? Por que a injustiça que está fora nos perturba dentro? Quando gritamos,
esbravejamos, nos rebelamos, indignamos e lutamos (até violentamente) contra a
injustiça de fora, na verdade, e, profundamente, não estamos lutando pela
sociedade e sim contra o que existe dentro, contra a injustiça e a violência
sofrida na infância. Assim, todo grande revolucionário ou ativista fervoroso,
em última instância, reflete seus traumas, dramas e/ou problemas emocionais
experenciados na infância. Em outras palavras, o que se expressa fora, como
indignação e na luta que clama por justiça é a nossa revolta interior por
aquilo que sofremos outrora, no tempo de criança, num outro agora.
Em tempos sombrios, onde a ganância e
a injustiça andam soltas, onde presenciamos decisões políticas que demonstram o
descaso e o desrespeito ao que é humano, pode parecer absurdo e até insensível
o convite para olhar para dentro e reconhecer a própria injustiça e violência
que por estar dentro se manifestam em nosso modo de agir em relação ao que
consideramos injusto e que está fora. Mas é somente quando entendemos o que
carregamos dentro que podemos acabar com o sofrimento interior, e, assim
poderemos contribuir positivamente com o mundo exterior. Quando não estamos
sofrendo, a luta exterior é feita sem violência e dor, ela acontece com amor,
paciência e com a compreensão de que os outros ainda que corruptos, covardes,
usurpadores e ladrões são mais de nós mesmos, são parte de mim antes de eu
mesmo ser o que agora sou.
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