Considero
a maternidade uma intensa jornada espiritual isso porque vejo nesse caminho a
grande e profunda oportunidade de autoconhecimento. Reconheço o conhecimento de
si como o objetivo mais elevado desta vida diante do qual todos os demais
(material, relacionamento, felicidade) tornam-se secundários. O conhecimento de
si a que me refiro diz respeito ao eu que sou e as emoções que ciclicamente
aparecem no exercício da maternidade. Porém, para além do âmbito psicológico e
emocional a maternidade oportuniza o autoconhecimento na esfera do mental. Quando
se trata do eu, a maternidade nos permite conhecer as diferentes facetas do ego
e exige a prática do desap(Ego). Nela também ficamos frente a frente com
emoções (aparentemente) contrapostas como o amor e a raiva, com os quais
inevitavelmente temos que aprender a lidar. Mas, a partir dela podemos adentrar
ainda mais profundamente em nós mesmos, podemos reconhecer os diferentes tipos
de pensamentos que nos habita. Em outras palavras, a maternidade pode tornar
mais evidente o que passa em nosso coração e na cabeça.
Os
pensamentos que por ora reconheço e que fazem morada em mim são do tipo da
memória, da pressuposição, da dualidade, vitimização e da imaginação. Um padrão
de comportamento mental muito comum e recorrente na relação com um filho é o da
memória assim como é a pressuposição aquele que, em geral, se manifesta na
relação com o outro. Em nosso ser-com o outro pressupomos quase o tempo todo:
quando o outro fala e age, quando nos parece estar assim ou assado. Se
pressupõe, e quanta presunção! Quando o pensamento pressuposição torna-se
habitual em uma relação temos como resultado o desentendimento, a discordância,
enfim, o conflito. Sem pressupor evita-se o conflito do mesmo modo que sem ir
contra as coisas tal como elas são, evita-se o sofrer.
Quanto
se pressupõe baseado na fala e na ação do outro! Quanto ouvidos damos aos
outros na criação de um filho! O pensamento da memória está aí, frequentemente,
quando criamos nossos filhos. A memória é a polifonia de vozes da mente. Por
dar ouvidos a essas vozes do passado, geralmente, sentimos medo e resistimos a
realizar mudanças em nossa vida. Por dar ouvido a tantas vozes da mente a nossa
ação não é mais do que uma reação, uma resposta. Se ouvimos essa vozes, quando
se trata de um filho, deixamos de dar colo, porque vicia; nos tornamos duros
para impor limites; ensinamos obediência por meio de castigos e recompensas;
introduzimos o alimento sem permitir a autonomia. Certamente, não ouvimos a
intuição porque é elevado o ruído das vozes da mente!
Fato
é que os pensamentos pressuposição, os pensamentos memória e os outros podem
ser calados e sabemos que isso acontece quando, de repente, experenciamos algo
que foge, por instantes, da mente ou do fluxo de pensamentos. Os insights
surgem nas brechas da mente, nos espaços entre os pensamentos. É uma
experiência dada em um lampejo de consciência, em um agora, na presença. Por
hora, deixemos tal experiência torna-se mais familiar e nos ocupemos de estar
atentos aos tipos de pensamentos que surgem e desaparecem e que, por sua vez,
também só podem ser percebidos na presença, no aqui e agora. Om!
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