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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Maternidade e autoconhecimento



Considero a maternidade uma intensa jornada espiritual isso porque vejo nesse caminho a grande e profunda oportunidade de autoconhecimento. Reconheço o conhecimento de si como o objetivo mais elevado desta vida diante do qual todos os demais (material, relacionamento, felicidade) tornam-se secundários. O conhecimento de si a que me refiro diz respeito ao eu que sou e as emoções que ciclicamente aparecem no exercício da maternidade. Porém, para além do âmbito psicológico e emocional a maternidade oportuniza o autoconhecimento na esfera do mental. Quando se trata do eu, a maternidade nos permite conhecer as diferentes facetas do ego e exige a prática do desap(Ego). Nela também ficamos frente a frente com emoções (aparentemente) contrapostas como o amor e a raiva, com os quais inevitavelmente temos que aprender a lidar. Mas, a partir dela podemos adentrar ainda mais profundamente em nós mesmos, podemos reconhecer os diferentes tipos de pensamentos que nos habita. Em outras palavras, a maternidade pode tornar mais evidente o que passa em nosso coração e na cabeça.
Os pensamentos que por ora reconheço e que fazem morada em mim são do tipo da memória, da pressuposição, da dualidade, vitimização e da imaginação. Um padrão de comportamento mental muito comum e recorrente na relação com um filho é o da memória assim como é a pressuposição aquele que, em geral, se manifesta na relação com o outro. Em nosso ser-com o outro pressupomos quase o tempo todo: quando o outro fala e age, quando nos parece estar assim ou assado. Se pressupõe, e quanta presunção! Quando o pensamento pressuposição torna-se habitual em uma relação temos como resultado o desentendimento, a discordância, enfim, o conflito. Sem pressupor evita-se o conflito do mesmo modo que sem ir contra as coisas tal como elas são, evita-se o sofrer.
Quanto se pressupõe baseado na fala e na ação do outro! Quanto ouvidos damos aos outros na criação de um filho! O pensamento da memória está aí, frequentemente, quando criamos nossos filhos. A memória é a polifonia de vozes da mente. Por dar ouvidos a essas vozes do passado, geralmente, sentimos medo e resistimos a realizar mudanças em nossa vida. Por dar ouvido a tantas vozes da mente a nossa ação não é mais do que uma reação, uma resposta. Se ouvimos essa vozes, quando se trata de um filho, deixamos de dar colo, porque vicia; nos tornamos duros para impor limites; ensinamos obediência por meio de castigos e recompensas; introduzimos o alimento sem permitir a autonomia. Certamente, não ouvimos a intuição porque é elevado o ruído das vozes da mente!
Fato é que os pensamentos pressuposição, os pensamentos memória e os outros podem ser calados e sabemos que isso acontece quando, de repente, experenciamos algo que foge, por instantes, da mente ou do fluxo de pensamentos. Os insights surgem nas brechas da mente, nos espaços entre os pensamentos. É uma experiência dada em um lampejo de consciência, em um agora, na presença. Por hora, deixemos tal experiência torna-se mais familiar e nos ocupemos de estar atentos aos tipos de pensamentos que surgem e desaparecem e que, por sua vez, também só podem ser percebidos na presença, no aqui e agora. Om!

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