“O
educador aprenderá com a própria criança os meios e o caminho para sua própria educação; isto é, aprenderá com a criança a aperfeiçoar-se como educador.”
(Montessori, Pedagogia Científica)
Quem
é o educador? Os pais, os cuidadores, de modo geral, os adultos. Bem antes da
escola, a educação da criança acontece em casa, os primeiros educadores
deveriam, portanto, ser os pais. Como mãe educadora aprendo sobre mim por meio
da observação da criança. É a partir dela que aprendo, me desconstruo e me
aperfeiçoo como educadora e, sobretudo, como humana. É por meio dela que se
tornam claros os padrões dos comportamentos físicos e mentais e das emoções
que, automaticamente, reproduzo e que acontecem na nossa relação cotidiana.
É
por meio da criança que minha filha é que me volto para mim mesma e percebo que,
as vezes, ajo como não gostaria de agir; me vejo reagindo não muito diferente
da reação dos próprios pais. Mas, e, poderia ser diferente? Agimos tal como
agiram com a gente, tal como nos ensinaram, tal como sabemos agir. A nossa
maneira de agir com a criança só poderá ser diferente diante de uma desconstrução
de si, dos pais que somos, do adulto que nos tornamos. É comum, por exemplo,
pensarmos que a mãe é acolhedora enquanto que o pai é quem impõe os limites,
quando, na verdade, cabe a ambos acolher e limitar (este pertence à esfera do
racional enquanto acolher ao da sensibilidade) características do feminino e
masculino que existe em cada um de nós.
Há,
de fato, muitos outros exemplos em que somos os mesmos, quer dizer, reproduzimos
os mesmos comportamentos, e, agimos como nossos pais. Isso ocorre, por exemplo,
ao se acreditar que é necessária a violência e a autoridade para se impor
limites, quando, por certo, isso é muito mais uma questão de conduzir até a
autodisciplina. Na relação coma criança conservamos uma relação entre superior
e inferior quando, de verdade, temos uma relação com outro humano, em um
estágio de crescimento diferente do nosso. Na maior parte do tempo, não fizemos
a vontade da criança ou não atendemos os seus “caprichos” porque acreditamos
que podemos ser escravizados por ela (pelo amor), quando, na verdade, se trata
muito mais de saber humilhar-se, o que quer dizer, de modo geral, abrir mão da
nossa vontade para ver a criança tal como ela é. Quase o tempo todo acreditamos
que cabe ao adulto mandar e a criança obedecer quando, na verdade, ao exigir
total obediência favorecemos o encobrimento da espontaneidade da criança, etc.
A
desconstrução de si necessária ao educador diz respeito a todos esses aspectos,
envolve um abrir mão dos preconceitos e das convicções, dos nossos dogmas e
daquilo que, geralmente, aprendemos como sendo o correto em questão de educação.
A desconstrução de nós mesmos acontece quando colocamos em suspensão as nossas certezas,
crenças e juízos em relação a criança e, simplesmente, observamos. Mas, a desconstrução
de si envolvida na educação não acontece sem o conhecimento. Ela depende da
instrução já que é o conhecimento o que nos faz ser outro, o que nos permite ir
além daquilo que acreditamos e que nos foi legado como verdadeiro e, portanto,
certo. Em Montessori, é fundamental a desconstrução dos comportamentos e
reações inapropriados enraizados em nós para acontecer a nova educação da
criança, uma educação que é revolucionária não apenas porque respeita a vida em
seu desenvolvimento natural senão também pelo fato de que se preocupa com um
aperfeiçoamento do humano que cada um é e, assim, conduz ao melhoramento da
humanidade.
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