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sábado, 19 de novembro de 2011

Ninguém se põe a caminho se não acredita que é possível uma mudança




           Neste último mês, iniciamos os primiero contatos com os centros de permacultura e com as ecovilas. Nosso contato é através de um e-mail não muito longo, no qual explicamos sinteticamente a ideia geral do projeto. Nosso objetivo é, primeiro despertar o interesse do nosso possível espaço de vivencia e aprendizado. Caso ocorra um retorno, nosso segundo passo é explicar com mais detalhes quem somos e sobre os próprio projeto. A ideia do trabalho voluntário, em que ocorre a troca entre trabalho e a alimentação\hospedagem não parece existir. Nós entendemos o voluntariado como sendo uma troca solidária entre trabalho\serviços e condições de sobrevivência; e, ainda, como uma troca de conhecimentos, sejam científicos ou comuns (obtidos pela intuição e experiência de vida), de valores, de visão de mundo, tudo isso sem o envolvimento de valores econômicos. Porém, na prática, estamos nos deparando com inúmeras dificuldades uma vez que além de se dedicar em média 6hs por dia ao trabalho voluntário há uma cobrança econômica para partilhar conhecimentos e espaços. É difícil (para nós) compreender porque espaços que são exemplos de um modo de vida alternativo, por se proporem a ser não só sustentáveis mas cultuar valores sustentáveis, são ainda tão dependentes do capital-dinheiro.



          Ao começar a nossa caminhada, infelizmente, começamos nos deparando com pessoas e grupos que muito pouco tem dentro de si daquilo que anunciam aos quatro ventos: o significado real de cooperação, solidariedade, de partilha justa (que redistribuí o excedente). Compreendemos que o excedente pode ser não só alimentos, mas, principalmente, o conhecimento (já que a posse de conhecimento é essencial para acontecer uma mudança no mundo). O fato é: com o brotar timido de um outro modo de vida (mais sustentável) brota também a incoerencia entre teoria e prática e, justamente, nos espaços que são representações deste outro mundo. Por que é sempre mais fácil a teoria do que a prática? Sim, bem sei que falo de seres humanos que apesar de terem despertado sua “consciência sustentável” (promotora de modelos de vida alternativos), continuam sendo imperfeitos. Por serem assim, buscam continuamente uma mudança e aperfeiçoamento de si mesmos, mas, imaginei estarem em um estágio mais avançado. O fato é que em espaços alternativos nem tudo é ofertado de maneira generosa, despida de expectativas e valor econômico. Nem tudo é verdadeiramente compartilhado com todos. E verdade seja dita: mais do que as palavras, são as atitudes que expressam o que verdadeiramente somos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Nós, os modernos bobos da corte


Iniciamos o processo de desconstrução-construção de nós mesmos, do nosso modo de vida rumo a uma vida mais significativa e sustentável, conectada com a natureza, cheia de simplicidade e encanto. Isso tem provocado algumas reações diversas (adversas). Para uns é estranho (justamente porque representamos uma atitude ou posição que não é comum); para outros, soa como ofensa (talvés porque fazemos o que outros já se sentiram inspirados a fazer mas não dispostos ou ainda porque estiveram dispostos, mas desistiram); e, há aqueles que dizem: como vocês são corajosos! Como vocês são loucos! Como vocês são sonhadores! E, talvés, isso seja assim porque ou se sentem incapazes de realizar um projeto deste tipo ou se sentem enganados enquanto ouvintes de algo tão absurdo ou ainda porque não há mais a coragem de sonhar.




Não ser levado a sério (independentemente do motivo) me faz recordar dos bobos da corte, que (no período medieval) eram a personificação dos “loucos”, os quais nunca eram levados a sério pelos absurdos que saiam de suas bocas, absurdos que serviam para entreter a família real e que muitas vezes não eram mais do que verdades bem ditas. Nós, talvés, somos assim como os “loucos-bobos” da corte, pois, como eles temos a coragem de dizer a verdade, por mais absurda que ela possa parecer. E o que nós loucos proferimos? Que trabalhamos para um mundo caduco; que este mundo não faz sentido; que uma vida deve ser movida pela troca solidária, em todos os sentidos. É nesta verdade - ainda que aparentemente contraditória (já que é entendida como mentira no pensamento e no agir da maioria) - que encontramos a nossa sanidade. É só nesta verdade que seremos capazes de continuar vivendo, capaz de reconhecer o sentido da existência, capaz de reencantar o nosso mundo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Helena, os orgânicos e a pitaia




          Em uma das muitas conversas entre minha mãe e eu, ela, do seu jeito simples e despreocupado fala de como “aquilo que era antigo começou a ser valorizado outra vez”. Ela, que ainda hoje usa as mãos para cultivar a terra, estava se referindo a agricultura e a valorização dos produtos, que eram produzidos em hortas familiares e sem o uso de agrotóxicos, os quais, atualmente, são chamados de orgânicos. Tentei dar sequência a conversa explicando que isso se deve ao fato da sustentabilidade, o ideal do nosso tempo. Procurei de modo bastante simplório explicar que a sustentabilidade é justamente uma tentativa de resgatar a conexão e o respeito pela natureza, perdidos com o passar do tempo e com o surgimento das tecnologias. É justamente a conexão e o respeito consigo mesmo e com a natureza o que expressa o trabalho com a terra e a produção de alimentos orgânicos.
Para tornar ainda mais compreensível o porquê do resgate da agricultura “antiga” (aquela que era praticada em pequenas (ou médias) propriedades rurais, que produzia uma variedade de produtos, usando técnicas que não agrediam o meio ambiente, fertilizantes naturais e nenhum agrotóxico) exliquei o fato da agricultura moderna (que se baseia no uso de adubação química (sintética), sementes transgênicas e de agrotóxicos) estar provocando uma destruição do meio ambiente e efeitos negativos sobre a nossa saúde. Ela agride o meio ambiente porque utiliza produtos químicos que causam o desequilibrio ecológico e a contaminação do solo além da contaminação da água, e, agride a nossa saúde porque todos os dias estamos levando à mesa alimentos que cada vez estão mais contaminados e, consequnetemnte, estamos adoecendo mais facilmente.
          Essa agricultura praticada atualmente e que resgata as técnicas da agricultura tradicional, do saber popular e que também faz uso de tecnologias inovadoras, promove, sobretudo, o  resgate do valor e do respeito do próprio agricultor além de aproximá-lo, outra vez, da terra. Isso foi confirmado neste final de semana, com a visita que junto com a ong Ecobé (do qual somos participantes voluntários), fizemos a Helena, mulher, mãe, agricultora (de Forqueta, distrito do município de Arroio do Meio). Uma mulher que sozinha produz alimentos que comercializa nas feiras ecológicas e em pequenos supermecados. Uma mulher simples, mas, atualizada nas discussões sobre orgânicos, esclarecida o bastante para perceber que produzir e consumir produtos orgânicos é mais do que promover a saúde de si mesma e dos outros, mas é, como ela mesmo falou, um estilo (um filosofia) de vida. Enfim, encontramos uma agricultora que resisitiu em migrar para a cidade (apesar do marido e dos filhos serem citadinos) e resignificou a sua vida quando se reaproximou da terra. Mais do que uma produção orgânica encontramos ali um agricultora orgulhosa de ser o que é, de fazer o que faz; consciente da importância dos produtos orgânicos bem como do seu trabalho de cultivadora da terra.
           E foi assim, em uma tarde ensolada e quente que aprendemos que é possível produzir muito mesmo que em um pequeno pedaço de terra, que conhecemos Helena, uma agricultora exemplar, as suas plantações; saboremos os seus morangos e amoras; e conhecemos a Pitaia Amarela,  fruto de uma das várias espécies de cactos epífitos que não custa menos do que custa R$ 99,00 o quilo.
 A planta só floresce à noite (com grandes flores brancas) e, por isso, são chamadas de Flor-da-Lua ou Dama da Noite. É mais comum encontrá-las no México e na América do Sul, mas, como a encontramos por aqui no sul, então, não podíamos deixar de saboreá-las. Seu sabor é doce suave, difícil associar com algo conhecido. As sementes se assemelham às do maracujá. A fruta é ingerida cru mas pode-se fazer suco ou vinho, já com as flores é possível ingeri-las ou fazer chá. 
 

domingo, 6 de novembro de 2011

A primavera está aí e está aqui (em mim).



             Me demorei, sob um céu propício, observando as borboletas com o seu esvoaçante dançar no ar, sentindo a brisa suave que de mansinho e repetidamente enchia minhas narinas de um ar perfumado, e, assim, fiquei a pensar: com a primavera também floresce algo em mim. A primavera é o acordar do que estava recolhido, é o desabrochar do que estava adormecido, do inverno: a estação do recolhimento e da instrospecção, das reflexões ... Sinto uma conexão profunda com a natureza: com a renovação da primavera, com a instrospeccção do inverno.
           É primavera! Os dias passam a ficar mais longos e nosso hemisfério torna a ser mais iluminado pela luz do sol. É um novo ciclo! É tempo de renovação! Sinto vontade de pular, correr, de respirar mais fundo, de me espreguiçar mais vezes, de sentir o vento bater no rosto. É assim, com o giro das estações, conectada à primavera, que surgem as flores no meu jardim, que surgem as flores (ideias) em mim, transformadoras (de mim) do meu mundo, da vida que inconformada e protestantemente tenho levado. Ah, Primavera! por ser renovação,me  impulsiona a iniciar uma série de mudanças na vida, no seu ritmo, na sua conexão com a natureza. Entregar-se ao fluxo, fruir e usufruir de uma renovação, primeiro, no olhar (sentir), depois, no criar (fazer). Um olhar atento percebe os ciclos da natureza, celebra a natureza ao celebrar a si mesmo.
          Ah, Primavera! Tempo do florescer, e, por isso, de renovar-se! É na primavera o instante do nascimento deste projeto. O mud@mundo é filho da primavera! Que é prima-irmã do tempo. O mud@mundo é a flor que nasce na primavera, flor onde pousa a borboleta (a liberdade) e que vira um fruto. E toda renovação, como representa Shiva, é, igualmente, desconstrução e construção. O mud@mundo não é outra coisa senão a descontrução-construção do meu habitus insustentável para um modo de vida simples, sustentável, cheio de significado e sentido.