Na
maternidade nem tudo são flores. Em nossos primeiros seis meses juntas percebo
que há em mim um presença insistente e cíclica de um estado de ânimo: a brabeza
ou raiva ou irritação. É claro que sei que não é uma boa deixar a raiva
sobreviver entre nós. Não é sábio permitir que esse padrão de comportamento se
reproduza entre nós porque isso, certamente, tornar-se-à um dos teus padrões de
comportamento. Então, o que fazer? Enganar a si mesma fingindo ser a mãe
perfeita, calma, tranquila, que não grita e que não sente, as vezes, vontade de
fugir? Impossível. Não consigo enganar a mim mesma. É possível “segurar” e não
dar vasão a tempestade interior? Sim, é possível calar e esconder a raiva que
vez ou outra insiste em visitar-me já que, afinal, sou cíclica. Acontece que
interiormente, sei que não é o melhor fazer isso que fiz durante boa parte
desta vida porque tudo o que é represado uma hora ou outra acaba se manifestado
com muito mais fúria. Assim, estou convencida de que o caminho a se seguir é o
do conhecimento. Por meio do conhecimento, quiça, poderemos transformar raiva
em sorrisos.
Aprendi com os mestres que é preciso estar
atento, presente, e, assim, tornamo-nos consciente das emoções que surgem e, no
caso da raiva, ao ter ciencia dela, ao mesmo tempo, ela se dissipa. Contudo
percebi que isso não me bastava, não era suficiente. Na maternidade aprendi que
preciso ir além, isso quer dizer, mais do que estar consciente é preciso
compreender os motivos e as causas da raiva. Nesse exercício a respeito de si
compreendi que a brabeza pode ser um padrão de comportamento herdado do modelo
feminino, isto é, da mãe. Ela é o nosso primeiro grande exemplo de “modus operandi” no mundo. Também
compreendi que a raiva é uma emoção que se manifesta na infância, nas situações
em que somos contrariados ou quando não somos ouvidos e, ainda, quando não
conseguimos expressar o que pensamos e queremos dizer. Isso me faz perceber que
quando a raiva existe em mim reproduzo a mãe, insatisfeita com as “coisas” do
mundo que não acontecem segundo o próprio querer nem correspondem as suas
expectativas; sou a manifestação da criança contrariada, agora, por outra
criança que em seu ser é espontânea e imprevisível, que não necessariamente
respeita uma rotina e planejamento e que nem sempre atende as minhas vontades.
Com
a maternidade temos a oportunidade de lidar com nossas emoções e, por isso, há
dias de céu cinza e de secura no jardim. As vezes ela pode parecer um pântano,
contudo, é do pântano que nasce a flor de lótus; é da compreensão e acolhimento
das nossas emoções que podemos dar um salto espiritual.
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