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sexta-feira, 9 de março de 2018

A maternidade é agridoce




Na maternidade nem tudo são flores. Em nossos primeiros seis meses juntas percebo que há em mim um presença insistente e cíclica de um estado de ânimo: a brabeza ou raiva ou irritação. É claro que sei que não é uma boa deixar a raiva sobreviver entre nós. Não é sábio permitir que esse padrão de comportamento se reproduza entre nós porque isso, certamente, tornar-se-à um dos teus padrões de comportamento. Então, o que fazer? Enganar a si mesma fingindo ser a mãe perfeita, calma, tranquila, que não grita e que não sente, as vezes, vontade de fugir? Impossível. Não consigo enganar a mim mesma. É possível “segurar” e não dar vasão a tempestade interior? Sim, é possível calar e esconder a raiva que vez ou outra insiste em visitar-me já que, afinal, sou cíclica. Acontece que interiormente, sei que não é o melhor fazer isso que fiz durante boa parte desta vida porque tudo o que é represado uma hora ou outra acaba se manifestado com muito mais fúria. Assim, estou convencida de que o caminho a se seguir é o do conhecimento. Por meio do conhecimento, quiça, poderemos transformar raiva em sorrisos.
 Aprendi com os mestres que é preciso estar atento, presente, e, assim, tornamo-nos consciente das emoções que surgem e, no caso da raiva, ao ter ciencia dela, ao mesmo tempo, ela se dissipa. Contudo percebi que isso não me bastava, não era suficiente. Na maternidade aprendi que preciso ir além, isso quer dizer, mais do que estar consciente é preciso compreender os motivos e as causas da raiva. Nesse exercício a respeito de si compreendi que a brabeza pode ser um padrão de comportamento herdado do modelo feminino, isto é, da mãe. Ela é o nosso primeiro grande exemplo de “modus operandi” no mundo. Também compreendi que a raiva é uma emoção que se manifesta na infância, nas situações em que somos contrariados ou quando não somos ouvidos e, ainda, quando não conseguimos expressar o que pensamos e queremos dizer. Isso me faz perceber que quando a raiva existe em mim reproduzo a mãe, insatisfeita com as “coisas” do mundo que não acontecem segundo o próprio querer nem correspondem as suas expectativas; sou a manifestação da criança contrariada, agora, por outra criança que em seu ser é espontânea e imprevisível, que não necessariamente respeita uma rotina e planejamento e que nem sempre atende as minhas vontades.
Com a maternidade temos a oportunidade de lidar com nossas emoções e, por isso, há dias de céu cinza e de secura no jardim. As vezes ela pode parecer um pântano, contudo, é do pântano que nasce a flor de lótus; é da compreensão e acolhimento das nossas emoções que podemos dar um salto espiritual.



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