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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Mundo, Finitude, Solidão

 Em tempos de PANDEMIA gripal, o que te perturba? Não é exatamente o mundo, o medo da morte e a solidão?  Nos dias de hoje, o existente humano vive perturbado por uma ameaça à vida, pela necessidade de isolamento e pela alteração no seu modo de vida. Por estar perturbado ele pode deixar de viver distraído, absorvido e perdido no mundo do trabalho, das ocupações, das relações, das aparências, do virtual e FILOSOFAR.

Por causa da pandemia, surgiram barreiras, ergueram-se muros e portas foram fechadas. O mundo das ocupações cotidianas, de repente, não mais que de repente, deixa de ser familiar. O existente humano deixar de estar absorvido pelo mundo cotidiano  das ocupações e, ao mesmo tempo, precisa isolar-se dos outros. Ele sente-se estranho no mundo e isso angústia

Em sua nova rotina, o existente no mundo fica da porta de casa para dentro, e, em função disso, está em contato mais íntimo com aqueles com quem divide o mesmo teto e/ou tem uma maior intimidade consigo mesmo, com o seu ser-no-mundo. Em casa, isolados, ficamos mais íntimos dos próximos, de nós mesmos, da nossa casa interior, mas também nos sentimos mais sozinhos e isso nos angústia.

Em tempos pandêmicos o estar no mundo é afetado pela possibilidade da morte de si e do outro: do amigo, do vizinho, dos parentes. O ser-no-mundo, de repente, desperta em si a angústia do nada, que entende-se aqui como sendo a possibilidade da morte, ou ainda, como sendo da própria finitude humana. 

Desenho:@mauri_zanoni

A situação existencial de estar em casa vivendo a fuga da solidão por meio da conexão virtual, a reconfiguração da vida social, do modo de trabalho, da rotina ... gera a ANGÚSTIA. 

Um ser humano angustiado está em condições de fazer FILOSOFIA. E a filosofia é isso: um casamento com a vida. Ela não acontece separada do próprio existir, porém, é preciso ser tocado ou afetado pela existência. ela não acontece no conformismo, na apatia, na acomodação, no aquietamento.

A philosophia desde a sua origem, começa com uma perturbação: o espanto. Se não somos tocados, perturbados, inquietados, angustiados, enfim, despertados na nossa existência no mundo, então, a filosofia não acontece.

Se, os teus dias de pandemia, são de angústia, então, encoraja-te! Acolha e aceite a angústia, quer dizer, viva afinado com ela. Se não fugir e tiver a coragem de vivenciar a angústia, te encontrarás em abertura, serás um Dasein (o ser-aí) em condição filosofar e transcender o mundo.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Por que a MÃE não pode fazer o papel do PAI?

 

Já faz uma ano que aconteceu a desintegração daquilo que chamava de família, a vida dividida em três, “três vidas inteiras”, uma para um lado e outras duas para outro. O ano de 2020, como dizem, foi atípico! De fato. Depois de 20 anos, comecei com a vida partida, convivi com a ausência do pai.

Se antes era o colo da mãe, a mão da mãe, o cheiro da mãe, o peito da mãe, o corpo da mãe que a criança precisava, agora, a partir de seus 2a7m é a proteção, a segurança, a socialização dada pelo pai, que se ausenta. O pai é aquele que abre a porta de casa e mostra o mundo ao seu filh@. O pai é a referência da construção interior do masculino que acontece na mente da criança, a imagem masculina que ela constrói na mente acontece a partir da sua visão do pai. O pai é quem faz a separação da fusão vivida entre mãe e filho, ou seja, é aquele que faz a separação emocional vivida simultaneamente pela mãe e a criança.

Laura Gutman, no livro A maternidade e o encontro com a própria sombra diz que “a separação é masculina, enquanto a fusão é feminina” (p. 137). A mãe está fusionada com o bebê porque nos primeiros anos de vida ela é o mundo para a criança. É ela quem acalma, alimenta, cuida, apoia o recém-nascido e, no que diz respeito ao emocional, o que um sente o outro também sentem. Mesmo que com o nascimento aconteça uma separação entre o corpo da mãe o da corpo criança, nas emoções isso não acontece. Aqui há uma unidade entre mãe-filho.

E somente depois de completar 2 anos, que o filh@ começa a se separa emocionalmente da mãe, começa a se compreender como um eu diferente dela. A partir daí, a mãe também se compreende como alguém separada da criança e, assim, começa a retomar a sua vida normal e recuperar a sua identidade (quem eu sou?), enfim, fica em condições de recomeçar a sua vida. Muitas mulheres, neste momento, engravidam de novo enquanto que outras aproveitam a ocasião e transforam a sua vida profissional, repensam e recriam o seu modo de existir no mundo.

 Como a tendência feminina é para a fusão emocional, a mãe não consegue sozinha realizar a separação emocional necessária, quando é chegada a hora, mais precisamente, entre os 2 e os 3 anos da criança. Cabe ao pai fazer a separação fusional entre a mãe e a criança. Ao fazer isso é ele quem se torna fusionado com seu filh@. Mas, e quando há um pai ausente? Então, algo ou alguém precisa desempenhar esse papel. O que acontece é que a mãe não pode pretender anular o lugar do pai ou fazer o que, por natureza, cabe a ele.

Se não há o pai, o papel do separador pode ser feito, preferencialmente, por meio de outra figura masculina (por exemplo, pelo avô, pôr um amigo da mãe). Além disso, a separação pode ser feita por meio de outras relações afetivas, de um trabalho interessante, por uma atividade artística, social, esportiva, por meio de objetivo pessoais. Não importa muito o tipo de atividade (separador emocional), o que é importante é o fato da mãe viver circunstâncias que favorecem o seu afastamento e desprendimento da criança.

A separação emocional é um processo lento, mas que precisa acontecer para se ter o desenvolvimento psicoafetivo saudável da criança e para o crescimento equilibrado tanto da mãe quanto do filh@.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

O segredo atrás da criança que brinca sozinha





Vem brincar comigo? Esse, certamente, é um dos convites que os pais mais escutam quando estão em casa com seus filhos. Isso acontece porque brincar é um das necessidades da criança. Ao brincar ela desenvolve o seu aspecto cognitivo, motor, social, criativo e emotivo. A criança quer brincar com o outro, mas ela também sabe brincar sozinha, e gosta!

Aqui em casa, hoje, ela acordou assim, disposta para o brincar solo. Ela não pulou em cima de mim me acordando com: vamos brincar? Ela acordou e rapidamente fez sua rotina matinal na intenção de brincar lá no seu espaço. Ela acordou com o interesse pelo brincar sozinha, introspectivo, silencioso e, ao invés de sentar-se diante da tela, manteve a escolha de estar a sós com seus brinquedos, no ambiente preparado para o brincar, longe dos olhos do adulto. É do interesse dela brincar sozinha e, enquanto adulto, cabe a mim respeitar, permitir, não intervir ou interromper.


É claro que a criança também gosta de interagir, quer contato, troca, isso porque ela precisa do outro. Quando não há outras crianças para partilhar o brincar, então caberá ao adulto. Ela convida o adulto para brincar e, ao aceitar o convite, nós adultos podemos oferecer o que temos de mais precioso, o nosso tempo de qualidade (presença). Ou seja, o que de melhor podemos fazer quando brincamos com uma criança é, de fato, brincar com ela, isto é, estar aí, por inteiro, presentes, enfim, entrar na brincadeira.

Quando o adulto brinca com a criança mas não lhe oferece o tempo de qualidade, quando ele brinca com o corpo presente e a mente em outro lugar, então, a criança percebe a sua ausência e, por isso, continua convidando-o para brincar. A criança que o tempo todo precisa do adulto para brincar, está, na verdade, pedindo a sua presença, ou como se diz, a sua atenção.


Presença é o que a criança demanda dos pais! Se ela tem pais presentes quando brincam, certamente, será uma criança que também saberá ficar a sós consigo mesma e brincar sozinha quando for de seu interesse e, igualmente, quando os pais, para ter um tempo para si, pedem que ela faça isso. Os pais presentes são, então, aqueles que, as vezes, se tornam desnecessários.