Já faz uma ano que aconteceu a
desintegração daquilo que chamava de família, a vida dividida em três, “três
vidas inteiras”, uma para um lado e outras duas para outro. O ano de 2020, como
dizem, foi atípico! De fato. Depois de 20 anos, comecei com a vida partida,
convivi com a ausência do pai.
Se antes era o colo da mãe, a mão
da mãe, o cheiro da mãe, o peito da mãe, o corpo da mãe que a criança
precisava, agora, a partir de seus 2a7m é a proteção, a segurança, a socialização
dada pelo pai, que se ausenta. O pai é aquele que abre a porta de casa e mostra
o mundo ao seu filh@. O pai é a referência da construção interior do masculino
que acontece na mente da criança, a imagem masculina que ela constrói na mente acontece
a partir da sua visão do pai. O pai é quem faz a separação da fusão vivida
entre mãe e filho, ou seja, é aquele que faz a separação emocional vivida
simultaneamente pela mãe e a criança.
Laura Gutman, no livro A maternidade e o encontro com a própria
sombra diz que “a separação é masculina, enquanto a fusão é feminina” (p.
137). A mãe está fusionada com o bebê porque nos primeiros anos de vida ela é o
mundo para a criança. É ela quem acalma, alimenta, cuida, apoia o recém-nascido
e, no que diz respeito ao emocional, o que um sente o outro também sentem. Mesmo
que com o nascimento aconteça uma separação entre o corpo da mãe o da corpo
criança, nas emoções isso não acontece. Aqui há uma unidade entre mãe-filho.
E somente depois de completar 2
anos, que o filh@ começa a se separa emocionalmente da mãe, começa a se
compreender como um eu diferente dela. A partir daí, a mãe também se compreende
como alguém separada da criança e, assim, começa a retomar a sua vida normal e
recuperar a sua identidade (quem eu sou?), enfim, fica em condições de
recomeçar a sua vida. Muitas mulheres, neste momento, engravidam de novo enquanto
que outras aproveitam a ocasião e transforam a sua vida profissional, repensam
e recriam o seu modo de existir no mundo.
Como a tendência feminina é para a fusão
emocional, a mãe não consegue sozinha realizar a separação emocional necessária,
quando é chegada a hora, mais precisamente, entre os 2 e os 3 anos da criança. Cabe
ao pai fazer a separação fusional entre a mãe e a criança. Ao fazer isso é ele
quem se torna fusionado com seu filh@. Mas, e quando há um pai ausente? Então,
algo ou alguém precisa desempenhar esse papel. O que acontece é que a mãe não
pode pretender anular o lugar do pai ou fazer o que, por natureza, cabe a ele.
Se não há o pai, o papel do
separador pode ser feito, preferencialmente, por meio de outra figura masculina
(por exemplo, pelo avô, pôr um amigo da mãe). Além disso, a separação pode ser
feita por meio de outras relações afetivas, de um trabalho interessante, por
uma atividade artística, social, esportiva, por meio de objetivo pessoais. Não
importa muito o tipo de atividade (separador emocional), o que é importante é o
fato da mãe viver circunstâncias que favorecem o seu afastamento e
desprendimento da criança.
A separação emocional é um
processo lento, mas que precisa acontecer para se ter o desenvolvimento
psicoafetivo saudável da criança e para o crescimento equilibrado tanto da mãe
quanto do filh@.
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