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domingo, 10 de janeiro de 2021

Por que a MÃE não pode fazer o papel do PAI?

 

Já faz uma ano que aconteceu a desintegração daquilo que chamava de família, a vida dividida em três, “três vidas inteiras”, uma para um lado e outras duas para outro. O ano de 2020, como dizem, foi atípico! De fato. Depois de 20 anos, comecei com a vida partida, convivi com a ausência do pai.

Se antes era o colo da mãe, a mão da mãe, o cheiro da mãe, o peito da mãe, o corpo da mãe que a criança precisava, agora, a partir de seus 2a7m é a proteção, a segurança, a socialização dada pelo pai, que se ausenta. O pai é aquele que abre a porta de casa e mostra o mundo ao seu filh@. O pai é a referência da construção interior do masculino que acontece na mente da criança, a imagem masculina que ela constrói na mente acontece a partir da sua visão do pai. O pai é quem faz a separação da fusão vivida entre mãe e filho, ou seja, é aquele que faz a separação emocional vivida simultaneamente pela mãe e a criança.

Laura Gutman, no livro A maternidade e o encontro com a própria sombra diz que “a separação é masculina, enquanto a fusão é feminina” (p. 137). A mãe está fusionada com o bebê porque nos primeiros anos de vida ela é o mundo para a criança. É ela quem acalma, alimenta, cuida, apoia o recém-nascido e, no que diz respeito ao emocional, o que um sente o outro também sentem. Mesmo que com o nascimento aconteça uma separação entre o corpo da mãe o da corpo criança, nas emoções isso não acontece. Aqui há uma unidade entre mãe-filho.

E somente depois de completar 2 anos, que o filh@ começa a se separa emocionalmente da mãe, começa a se compreender como um eu diferente dela. A partir daí, a mãe também se compreende como alguém separada da criança e, assim, começa a retomar a sua vida normal e recuperar a sua identidade (quem eu sou?), enfim, fica em condições de recomeçar a sua vida. Muitas mulheres, neste momento, engravidam de novo enquanto que outras aproveitam a ocasião e transforam a sua vida profissional, repensam e recriam o seu modo de existir no mundo.

 Como a tendência feminina é para a fusão emocional, a mãe não consegue sozinha realizar a separação emocional necessária, quando é chegada a hora, mais precisamente, entre os 2 e os 3 anos da criança. Cabe ao pai fazer a separação fusional entre a mãe e a criança. Ao fazer isso é ele quem se torna fusionado com seu filh@. Mas, e quando há um pai ausente? Então, algo ou alguém precisa desempenhar esse papel. O que acontece é que a mãe não pode pretender anular o lugar do pai ou fazer o que, por natureza, cabe a ele.

Se não há o pai, o papel do separador pode ser feito, preferencialmente, por meio de outra figura masculina (por exemplo, pelo avô, pôr um amigo da mãe). Além disso, a separação pode ser feita por meio de outras relações afetivas, de um trabalho interessante, por uma atividade artística, social, esportiva, por meio de objetivo pessoais. Não importa muito o tipo de atividade (separador emocional), o que é importante é o fato da mãe viver circunstâncias que favorecem o seu afastamento e desprendimento da criança.

A separação emocional é um processo lento, mas que precisa acontecer para se ter o desenvolvimento psicoafetivo saudável da criança e para o crescimento equilibrado tanto da mãe quanto do filh@.

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