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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FINITUDE
 
 
 
 
"Diz-se que, antes de um rio entrar no oceano, ele treme de medo. Olha para
 
 trás, para toda a jornada: os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso
 
 através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão
 
 vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há
 
 outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar! Voltar é impossível
 
 na existência. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele
 
 entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá
 
que não se trata de desaparecer no oceano, mas TORNAR-SE oceano. Por um
 
lado é desaparecimento e por outro é renascimento. Assim somos nós. Só
 
podemos ir em frente e arriscar. Coragem! Avance firme e torne-se Oceano.”
 
 
 
Osho
 


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Permaculturando no meu jardim
 
 
 


Sim, sim ... e a vida não é mais do que o que se move.
E no movimento, o inesperado, o outro,o contrário do que sonhamos
é o que acontece.
Mas, por mais estranho que pareça, me sinto surpreendentemente inteira,
completa, florida e feliz.
Colorida me sinto primavera e ando a florir por aí.
Há um pequeno mundo ao meu redor, um mundo que não vai além do entorno da casa onde moro, que não transcende os limites do meu jardim;
 um mundo que se modifica, se tranforma, pra melhor.
E, são as minhas pequenas atitudes, os meus pequenos gestos de cuidado:
(cuidado com a terra, cuidado com os outros, cuidado comigo mesmo);
os meus pequenos gestos de amor que me fazem ser assim: permacultora e feliz.
 
 
 
 
 
 
 
 


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Permacultur(A)ndo: eu mudo o mundo muda



O sol deixa de reinar por mais um dia ... antes da lua aparecer soberana noite à dentro volto para casa, mas na mente lateja a lembrança daquilo que todos os dias vejo: a corrida diária dos consumidores ... consumidores que entram e saem das lojas ávidos por produtos ou preocupados em pagar o que já esqueceram ter consumido. Fato é que vivemos tentando ser felizes, mas gastamos a vida (o bem mais precioso) trabalhando ... trabalhando ... para consumir ... consumir ... e sumir. A felicidade está atrelada ao consumismo e quando acordamos, quando abrirmos os olhos, vemos que reduzimos a vida a isso; é em função disso que a vida se esvai. Se foi por fortuna? por sensibilidade? por inquietação? por inconformidade? pelo non sense? Não sei ... fato é que despertei à tempo, antes da minha vida estar perdida. Quando despertei uma das primeiras atitudes foi revisar o meu modo de vida. E, foi assim, que senti a urgência de fugir para ser outro, para aprender a ser diferente, para mudar meu modo de ser (estar) no mundo. No entanto, por respeito ao ritmo da vida, aos sinais dos tempos, por ter aprendido a não ir contra à natureza, por permitir o movimento natural das coisas fiquei aqui onde estou sem, no entanto, deixar de mudar o que sou, meu habitus insustentável. Eu não vou, mas o tempo (de mudança) vem ... aqui, onde estou.



Não sei se aconteceu, primeiro, uma alteração da percepção da realidade que provocou uma alteração em meu modo de ser ou se ocorreu o contrário. É difícil saber exatamente como se dá a mudança porque enquanto se está no processo não se sabe estar e, portanto, não há uma experiênia consciente do que acontece. Se percebe só mais tarde o acontecido, mas daí é tarde porque se olha com os olhos de hoje para o ontem e “quando o ser humano resgata seu passado, o distorce, acrescenta invariavelmente cores e sabores” (Cury). Mesmo sem saber, ao certo, como me encontro no estado que estou o que sei dizer é que a busca por um modo de vida mais sustentável reencantou meu mundo e a certeza que tenho é que quando passamos a nos preocupar mais com a natureza o que encontramos, em primeiro lugar, é mais felicidade. É uma felicidade diferente daquela que temos como quando compramos.



Quando se começa a andar descalço, a deitar na grama, a olhar pro céu, a sentir o vento e o sol bater no rosto, a festejar o cair de uma semente, a concentrar-se na dança das folhas, a por a mão na massa para construir a horta, a espiral de ervas, o círculo de bananeiras, o jardim, enfim, quando se começa desejar o simples: uma vida simples, uma casa simples, uma decoração simples, um vestir-se simples, uma alimentação simples, um viver descomplicadamente simples, passamos a ter uma felicidade simples, que é mais completa, duradoura. Sim a felicidade mora na simplicidade: do ter, do ser, do fazer e, igualmente, do sentir.


A conexão com (as forças da) a natureza além de proporcionar a felicidade  dá o conhecimento necessário para mudar a si mesmo, o próprio mundo e, é assim, que nos tornamos, nós mesmos, a mudança que queremos ver no mundo. É uma mudança processada pelo ato de permaculturar. Sim, ainda que sem saber, muitos de nos andamos por aí nos encontrando porque estamos permaculturando. Foi o que aconteceu comigo, praticava a permacultura sem saber, seguia os seus principios sem conhecer. Agora, o conhecimento só aprimora o meu ser e fazer. Percebo que sou outra não apenas no meu modo de ser no mundo, mas, para além disso, em meu ser-com-os-outros. A conexão com a natureza (ou seria reconexão?) também me tornou mais humana e isso se reflete, claramente, em meu ser social. Apesar de tudo ainda sou aprendiz ...


No caminho em que ando, o caminho da permacultura, aos poucos sinto a minha sensibilidade florescer. Ainda tenho dificuldade em desacelerar o passo, dilatar o tempo, em degustar lentamente o espetáculo que a natureza oferece. São coisas que ainda faço não naturalmente, mas pela lembrança da consciência. Por outro lado, já aprendi  o valor da gratidão e do amor, já reaprendi a respirar profundamente para me encher de “anima”. O que, na verdade, me foi ensinado a muito tempo por meu pai, uma pessoa que nada sabia de permacultura, mas a praticava quando respeitava e admiriava não só a terra que produz, mas tudo o que a natureza oferece; que nada sabia de meditação, mas a praticava todas as manhãs, cedinho, ao abrir as portas e janelas da casa, e, de olhos fechados, me convidava a deixar o ar entrar em mim. Ele, silenciosamente, celebrava o dia e, provavelmente, agradecia por mais aquele dia de vida. Bem, se para ser feliz basta buscar a simplicidade, para sentir grandes prazeres, como disse Cury, é preciso pouco, muito pouco.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Seres encantados em um lugar chamado Rodeio Bonito



Era madrugada, fria, do dia 23 de maio e, eis, os primeiros participantes do acontecimento, PDC+20. Na cidade conhecida como Rodeio Bonito, o evento foi chamado de Planejamento Sustentável isso porque era necessário ter uma compreensão do que aconteceria nos próximos dias e, assim, uma aceitação. Evitou-se falar em PDC antes do acontecido, pois, isso  soava estranho e mais parecia uma sigla de um novo partido político do que a abreviação de um curso que tem o poder de provocar a (r)evolução na vida dos participantes, o Curso de Design em Permacultura.


Eles  eram os poucos dos muitos que foram chegando: bichos-grilo, alternativos, barbudos, cabeludos, agricultores, professores, estudantes, vindos de várias regiões do Brasil. Seres que, se ainda não eram, logo, logo, se tornariam permacultores. Possivelmente foram considerados seres estranhos: eram coloridos, alegres, festivos, artistas, brincalhões, criativos, vivos, andantes, cantantes, dançantes e um pouco daquilo que a sua imaginação consegue criar.





E, por serem estranhos ao olhar de gente comum, esquecidas das coisas da vida (acostumadas a não ouvir passarinho, a não colher fruta no pé, a não subir em planta, a não saudar o sol e reconhecer a amplidão)  também pareciam gostar de coisas estranhas: de mato e fogueira, de tomar banho de rio, de andar descalços, de subir em árvores, deitar na grama e sobre pedras e, principalmente, das comuns, insignificantes e doces bergamotas. Sim, eles se tornaram os descobridores do encanto das bergamotas. E de tanto que gostaram não esqueceram de guardar um espaço pra elas na mochila que iria nas costas no retorno ao lar.








Costumavam fechar os olhos sem ter sono, só pelo prazer de sentir: o cheiro, o vento, o sol, a energia em sua dança. Costumavam distribuir abraços, transpiravam amor, transmitiam tranquilidade (ou seria serenidade?). Era comum vê-los com um leve sorriso no rosto, rostos belos, doces, cativantes. Eram crianças alegres, irmãos (não de sangue, mas de coração), juntos eram um, formavam uma família.






De tanto parecer ser um, uma família, ouvi a seguinte pergunta: e depois, para onde vocês vão? Não foi difícil explicar, mas foi difícil para o questionador entender que depois (no tempo que ainda resta) cada um segue o seu caminho com, quem sabe, a fortuna de uma (re)união acontecer.


Se foram julgados? Não sei. Se foram admirados? Sim, claro que foram alvo de espanto e admiração, por ser exatamente o que eram: conectados às forças da natureza, felizes em sua simplicidade,  mágicos em sua criatividade, fraternos em sua irmandade, cheios de amor e gratidão no coração. Mas, nem sempre conseguiram compreender o porquê do tamanho da admiração e do seu sucesso, pois, não estavam sendo nada mais do que aquilo que naturalmente são.

 
E como tudo é movimento ... os dias passaram, o tempo passou, e, a hora de brincar naquele tempo acabou. Foi feito o círculo de despedida e nele ouvi de um simples e iluminado ser o seguinte: chegamos aqui vazios e saímos igualmente vazios porque a vida é isso, o fluir. Sim, na hora, concordei. Somos o meio pelo qual tudo flui, se transforma, nada podemos e devemos reter. Mas agora, contrariando a lógica, percebo que o contrário também é verdadeiro: nós chegamos cheios, pois deixamos nossas marcas lá, em quem ficou tanto como em quem partiu e, por outro lado, saímos, igualmente, cheios: de conhecimento e aprendizado, amor e gratidão. Fato é que permanecemos cheios: de lembranças e de saudades.











sexta-feira, 27 de abril de 2012

O ENCANTAMENTO DA DANÇA CIRCULAR NA RODA DO FOGO





            O encontro mágico, inesquecível e transformador  com a dança circular aconteceu na roda do fogo, na Aldeia da Paz de 2012. O que faz a Dança? Quando participei, pela primeira vez, percebi que eu nada sabia da dança que se dança em círculo, danças circulares sagradas, dança da paz, dança do encontro com o outro e consigo mesmo. Foi no espaço-tempo da Aldeia da Paz e em um momento de renovação que conheci as danças circulares. Foi neste espaço e tempo que senti ressoar em mim a música e o encantamento da roda, das mãos entrelaçadas, da dança. Ao entrar na roda, ao dar as mãos, ao girar ao som de  músicas desconhecidas e pertencentes a uma cultura distante, nasceu em mim uma força, uma beleza, uma alegria, uma serenidade, contentamento e paz. Apesar de não fazer parte de mim, do meu mundo, não senti, em relação as danças de roda, um estranhamento, antes o contrário, senti uma familiaridade, me senti em casa apesar de conectada a um passado distante, era um passado que, ao mesmo tempo, me habitava. “ Lembro: eu ria, ria-me.”


            Outras danças já fizeram e fazem parte da minha vida. Já balancei e brinquei na roda de capoeira, mas, as danças circulares são diferentes. O encontro com as danças circulares alimentou minha criatividade e meu desejo em fazer diferente, fez nascer o desejo de recriar o cotidiano, de resignificar minha existência. O meu interior era um deserto estéril, e, por estar desertificada me habitava o vazio. A minha formação aconteceu dentro de um inteletualismo academico, pouco sensível e criativo mas muito racional. Vivendo em um mundo excessivamente materialista e racionalista exclui, como se fosse contraditório e sem encaixe, o espiritual, o religioso. Mas, (parafraseando Luciana Ostetto) não quero a aridez do deserto - “O deserto cresce; ai de quem abriga desertos!”. Quero a terra molhada, sementes, fertilidade.” e, foi isso, o que a roda das danças circulares fez surgir em mim. Ela proporcionou o reencontro com o espaço sagrado dentro de mim e com o mundo espiritual fora de mim, coisas que neguei devido a adesão ao racionalismo, devido a aceitação da ordem que manda pensar, mas não sentir.



            Vivi uma experiência: dançar em círculo. É uma experiência profunda, inesquecível, única, intransferível e, por isso, difícil de explicar. E por sentir dificuldades de encontrar as palavras que explicitem “o que faz a dança”, recorro novamente  a Luciana Ostetto. Ela diz que na impossibilidade de dar expressão ao “o que faz a dança”, vem a certeza de que ela provoca o corpo, todos os sentidos: pela forma, pela música, pela tradição evocada, pela simbologia presente no gestual. E, conforme o grau de interação e entrega do dançarino, provoca mudança de comportamento, remexe camadas profundas do inconsciente. Nesse sentido, também caminha o pensamento de Mircea Eliade. Segundo ele, a iniciação, filosoficamente, equivale a uma “mutação ontológica da condição existencial”: da provação o iniciado emerge totalmente diferente – “tornou-se outro”. (Eliade, 1989, p.137).


            É isso, a dança circular me proporcionou uma iniciação rumo a entrada em outro mundo. Provocou uma mutação ontológica em minha condição existencial o que, heideggerianamente falando, significa provocou um alteração no ser do meu ser-no-mundo. O ser do humano  (no mundo) é o cuidado (sorgen), diz Heidegger. Cuidado é preocupação com os outros, com si mesmo, com o mundo, com a natureza. O sentido do ser (cuidado), continua Heidegger, é o tempo. O tempo é, portanto, o horizonte a partir do qual se decide o significado do cuidado. No meu tempo - tempo de uma época  que supervaloriza a razão, o cognição, a ciência. e desvaloriza a sensibilidade, a criatividade, a imaginação - o cuidado se ocupa das coisas, do material, do capital, da aparência. A preocupação é com os outros coisificados, com a natureza reificada, com as próprias coisas e com a coisa que eu mesmo sou. 



            Mas na roda, girando, cantando, para mim outro tempo começou.  Esse tempo, é o tempo da renovação. A dança circular  alterou o meu ser, o meu cuidado. Percebo que já não me preocupo com os outros em sua coisificação nem com a natureza como coisa, mas, voltei-me para mim, cuido  de mim mesma, mas, não como um ser coisificado, cuido de mim como humana e, ao cuidar de mim, cuido dos outros e da natureza porque sinto ambos ser uma extensão de mim. É pelo poder da dança que me desvencilhei do tempo da razão (instrumental) e vivencio o tempo da sensibilidade, tempo de ser humano, inteiro, completo. Como pode o dançar acordar outro tempo? Como pode a dança ressignifca meu ser?   O que sei é que depois do encantamento da dança na roda, do giro, não seria mais a mesma. O encanto batem em mim em lugares que nem sei – me comove, me alegra, contagia.  Dançando em círculo, na roda do fogo, fui tocada. E foi assim que me conectei com o centro, o sagrado que há em mim, foi assim que outro tempo começou. É uma transformação que não me permite deixar a roda parar.

Luciana Esmeralda Ostetto - (Tese de Doutorado)
Educadores na roda da dança: formação-transformação.
Martin Heidegger - Ser e Tempo

sexta-feira, 23 de março de 2012

O outono está aí (na natureza) como está em mim.




É outono! Os dias passam a ficar mais curtos e nosso hemisfério pouco a pouco, dia a dia passa a ser menos iluminado pela luz do sol. É visível a mudança do tempo natural. Nós giramos em torno do sol, os dias vão tornando-se mais curtos, a sombra muda de lugar, o ar da manhã e do fim da tarde é fresco, começam a existir dias cinzas, com uma névoa que custa se dissipar quando não oculta nuvens carregadas de um chuva fina. Que cai mansamente, molha o chão, freia o ritmo do mundo. É outro ciclo da natureza!
É o recomeço de um mesmo e não menos outro (novo) ciclo natural! É tempo de mudança fora e dentro de nós mesmos. Nossa vida, como a natureza, se manifesta em ciclos. Outono, é o tempo de aperfeiçoar a escuta: do que se manifesta, do que é sussurrado em nosso interior, do silêncio. É tempo de nos voltarmos para nós mesmos, para rever posturas, atitudes, objetivos; é tempo de preparar o terreno para a alquimia que se processa no inverno, o tempo da introspecção.


O equinócio de outono é o que agora vivenciamos (no hemisfério sul). É o tempo em que norte e sul ficam perfeitamente alinhados com o sol para em desalinho o sol começar a se afastar do sul em direção ao norte. É o equinócio de outono que nunca deixou de ser celebrado pelos nossos ancestrais . A celebração era um forma de lembrar não só do ciclo da natureza mas que em nós mesmos também se inicia um outro ciclo.

terça-feira, 6 de março de 2012

A doce mãe: Aldeia da Paz

Aldeia da Paz, um modelo de comunidade sustentável e alternativa, integrando Arte, Ciência e Religião, aplica na prática ferramentas para a construção de um novo mundo possível. A Eco-Aldeia da Paz é nômade, anualmente se constrói por meio da autogestì nas vivencias e práticas sustentáveis, possuí um caráter interdisciplinar e transdisciplinar.

Na Aldeia todo dia é domingo. Um eterno domingo … assim são os dias porque todo dia é alegria, diversão, satisfação, contemplação, medita-(a)ção. A verdade é que facilmente nos perdemos no tempo, não sabemos dizer o dia da semana nem qual é o dia do mês. Também é verdade que isso não faz muita diferença já que todo dia é domingo!


Nela é possível experenciar uma outra forma de organização social onde no lugar de lideres existem focalizadores. O focalizador não é um líder no sentido de dar ordens; é sim a pessoa que adquiriu respeito por sua capacidade. Ele participa da roda e das atividades, lado a lado com todos. Ele dá apoio e segura o foco do que vai sendo realizado e compartilhado porque reúne uma experiência maior do que outros participantes da Aldeia. Assim, vivenciamos uma anulação do “status quo” e uma dificuldade em distinguir entre sábios, ordenadores, executores. Não há uma relação entre senhor e escravo e sim uma relação de igualdade, onde cada um, de acordo com suas capacidades, tem igual importância para o bom funcionamento do todo.


A Aldeia da Paz é o lugar onde se dança em círculo na roda do fogo para saudar a natureza e celebrar o divino que há em nós. Mas, para além disso, é o lugar para a redescoberta dos nossos muitos eus entre os quais está o eu criativoque acaba ficando esquecido, pois na sociedade onde reina a tecnologia “o imenso potencial criativo do ser humano é interrompido, negado, frustrado, na mesma medida em que o ser é empobrecido na sua capacidade de realizar, de realizar-se”. É o lugar onde há uma comunicação não violenta, o desinteresse em julgar o outro, o esforço por aceitá-lo em sua diversidade, e, sobretudo, há integração prática entre trabalho, lazer e espiritualidade. Essa é a mágica: em conexão permitir o desenvolvimento das diferentes dimensões do humano (material, social, criativa, espiritual.) Aldeia da Paz, uma experiência que será sempre muito maior que a explicação e, talvez, as palavras possam empobrecer um tal encantamento.
Nem só de estruturas físicas e de ricas vivencias a aldeia é composta!!! Para além de uma eco-comunidade, do exemplo prático de outro mundo possível, de um meio divulgador da permacultura e de tecnologias verdes, a Aldeia da Paz pode nos conduzir ao autoconhecimento, reativar a intuição, despertar a sensibilidade e o olhar que estavam embotados pelo árido cotidiano. Ela expande a percepção, a consciência e o sentir. Assim, ascende "coisas" por dentro e nos fazem querer recriar o cotidiano, reinventar a vida. Sinto a Aldeia da Paz como uma grande mãe. Mãe é aquela que gera, educa, lança para o mundo. 


Como uma doce mãe a Aldeia da Paz gerou novos filhos, os filhos da terra; educou para a sensibilidade (para a escuta da mãe terra, para perceber o movimento da natureza, para sentir o toque suave do vento, para conhecer o calor e força do sol e as sinuosidades da lua) e para um outro modo de vida. Nos braços da aldeia um mundo novo vai se abrindo em cada mirada e a cada conversa que se ensaia com cada um dos aldeões. É um mundo em que a vida humana anda em conexão com a natureza, anda preocupada com o ser inteiro e não pela metade. É um mundo em que a terra é Pachamama, onde Deus (a força superior) é um dançarino alegre-provocador, destruidor-construtor. Para ser “religioso” basta obedecer apenas dois preceitos: honrar o deus que nos habita e amar ao próximo como a ti mesmo. (Isso é amor!). 
Cada um de nós, humano, é, nada mais do que uma centelha de chama sagrada. E, assim, somos luz. “Somos curadores, curamos com luz, luz do nosso amor… luz que chega à terra, cura toda a natureza, despertando a humanidade, curando todo o planeta” (Mira). E, assim, onde iremos estar, lá se encontrará a presença divina, lá estara a aldeia, a aldeia que carregamos dentro. E, como bons filhos não podemos não ser luz e exemplo à todos, exemplo vivo que mostra em práticas e palavras a essência do que somos. E, assim, nos tornamos guerreiros de luz.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

El Derecho al Delirio - Eduardo Galeano


"Se não nos deixai sonhar,
não os deixaremos dormir"


"A utopia está no horizonte
Eu sei muito bem que nunca a alcançarei,
que se eu ando dez passos
ela se distanciará dez passos
quanto mais a procure menos a encontrarei
porque ela vai se distanciando
quando mais me aproximo ...
Para que serve? A utopia serve para isso,
PARA CAMINHAR"

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O mud@mundo como utopia





"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, um sonho, uma ponte, da procura, um encontro."
(Fernando Pessoa)

...

          Estive cheia de sonhos, sonhos que conduziram a ação, sonhos que coloriram meus desejos, sonhos que me levaram a angústia que mora em mim. Angústia que com frequência transborta em lágrimas, em grandes imaginações, em planos de fuga. mas, como aprendi a respeitar os sinais do tempo, a estar a seu favor, sincronizada com o momento, deixo-o decidir e sem insistir me rendo. Os meus sonhos, que não conhecem os limites do tempo, mas que só acontecem dentro de um tempo, vão ter que esperar. O tempo deles não é este agora, mas o mais tarde.



          Mas, deixe-me contar dos meus sonhos porque ao desenhá-los em letras alivio minha angústia: O que nos pôs em movimento foi o desejo de satisfazer os nossos interesses subjetivos aliando-os a uma causa objetiva. A causa porquê acreditamos fazer sentido lutar é a da sustentabilidade. O desafio desta geração é mostrar que outro mundo é possível, que podemos substituir um habitus insustentável por um habitus sustentável de vida. Isso depende, certamente, de uma mudança em nós. Nós temos que ser a mudança que queremos ver no mundo! Com o intuito de buscar mudar a nós mesmos e o mundo (por meio de uma educação para a sustentabilidade) criamos o projeto mud@mundo. Estruturá-lo teoricamente não foi problema, já que fomos muito mais adestrados a sermos bons teóricos do que executadores de ideias.
          Nos primeiros dias deste ano de 2012 descobri a mais nova profissão do nosso século: Personal Coach (uma espécie de conselheiro que através de perguntas poderosas, técnicas e ferramentas específicas tem a função de ajudar as pessoas a atingir os seus objetivos). Decidimos ouvir os sesu conselhos pois assim tendo um modelo de conduta se torna mais fácil, por comparação, saber onde erramos. Os conselhos do Coach rezam que é preciso sonhar, definir o objetivo com um tempo de realização determinado e, assim, traçar uma plano de ação (definir o passo a passo). A intuição, incrivelmente, é levada em conta. É aconselhável ouvir a voz interior, suas objeções, a sensação de desconforto ou conforto por ela provocada. Também é importante antecipar mentalmente a vivencia do que está em jogo; é importante perceber o que se vê, ouve e sente ao anteciparmos a vivencia do ponto de chegada do projeto em andamento. Ainda é necessário o bom senso, a motivação e a celebração (comemorar cada conquista) e, sobretudo, o fazer (a ação). O bom senso é necessário quando se sabe que com o nosso projeto afetaríamos pessoas ao nosso redor. Se houver desarmonia é com o uso do bom senso que se tenta adequar os outros aos nossos objetivos.

           Com o conhecimento do procedimento ideal passaremos, agora, a uma autoavaliação. É curador e enriquecedor o processo de filtrar os sonhos, identificar os pontos fracos, os erros cometidos. Isso nos purifica, alivia a culpa de nós por nós mesmos. Repasso em minha memória os dias de construção só para identificar os pontos frágeis da utopia, do mud @mundo. O sonho é algo que brota de dentro e não pode fazer parte “deste dentro” por convencimento. O seu nascimento no interior pode ser provocado por diversos estímulos, mas, jamais deve ser forçadamente ali plantado porque dessa maneira não brota, não vinga. Qs sonhos devem nascer de modo natual e não ser plantados. Foi mais ou menos isso o que fiz: forçei o(s) outro(s) a criar dentro de si o meu sonho para desse modo podermos ter um sonho comum. A diferença é que frente a qualquer dificuldade eu permanecia presa ao meu sonho e você(s) se desprendia(m) para, mais tarde, ao serem lembrados, voltar a estar a ele contado.
           Já o objetivo sempre esteve claro, porém, o plano das ações foi centralizado em torno do como realizaríamos o “nosso” sonho e não no modo como chegaríamos até o ponto de começar a realizá-lo. O ato de antecipar a vivencia do nosso projeto nos fez planejar detalhadamente a sua execução e deixamos de planejar cautelosamente os passos que conduziam até a execução. Vítimas do imediatismo, pecamos! Queríamos executá-lo logo, o quanto antes, e, imediatistas que somos, menosprezamos o caminho que deve ser trilhado até chegar ao ato que condiciona o fazer (executar). A motivação foi muitas vezes abalada pelas palavras e pensamentos negativos vindos de quem foi convencido a ter um sonho. Quem tem um sonho dentro de si é Fortaleza: não é atingido pela discordância ou desarmonia dos outros em relação aquilo que é o seu querer. Não se preocupa em demonstrar que sua ação os beneficia de algum modo ou que, pelo menos, não os prejudica. Mas para quem tem um sonho colocado dentro de si sente o peso das objeções de gente de fora, a discordância do outro abala ainda que o outro (apenas indireta e inofensivamente) seria afetado pela sua realização. Não se consegue demonstrar que sua ação os beneficiará ou não os prejudicará. A intuição, na verdade, nunca deixou de dar seus palpites, mas, muitas vezes decididamente ignorei suas acertadas alfinetadas.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A construção da rede social (os amigos e amigos dos amigos)


 
          “A rede social de amigos, parentes e colegas de trabalho. As visitas, barganhas, fofocas e manipulações que ocorrem entre eles (…). Estes são processos e situações com que todos nós nos envolvemos e que se constituem no material básico da vida social”. Não obstante, nunca, ao conviver, quis me envolver mais do que necessária e naturalmente sempre já estive envolvida. (Talvés por saber da minha falta de habilidade para lidar com isso). Caso é que a rede de relações na qual um humano nasce e se constrói, que tenta conscientemente ou não manipular e que é, consciente ou não, manipulado, é a rede que “não é somente a fonte de seus problemas sociais; também fornece a matéria-prima com a qual deve resolver seus problemas”. Isto é assims segundo Jeremy Boissevain. Como gosto de brincar relacionado idéias, bringo agora, para melhor entender a realidade, para ter uma maior compreensão do fatos. Quero falar da rede de amigos e dos amigos dos amigos, rede permeada pela a amizada que Eric Wolf chamou de amizade instrumental.
          A amizade instrumental, diferentemente, da emocional é por interesse. A relação de amizade interessada tem como objetivo obeter acesso a recursos - naturais ou sociais - sendo que o empenho por esse acesso é vital nessa relação. A amizade, neste sentido, tem um utilidade (serventia) prática, sendo que quanto mais amigos melhor já que ocorre um processo de apadrinhamento de uns em relação aos outros. A amizade interessada se apoia na reciprocidade. Ela não deixa de ter intensidade e afeto, ao contrário, a intensidade da relação pode aumentar, dependendo, é claro, da troca e, principalmente, do número de favores trocados. Como o afeto também é um ingrediente importante dessa relação, se ele não existe deve ser criado. Ou nas palavras do autor: “se não está presente deve ser fingido”. Esta relação, no entanto, fica ameaçada quando um dos membros explora demais o outro ou quando um favor não é atendido.
          É de importância crucial criar este tipo de amizade, a instrumental, pois, a concretização de muitos projeto, sejam pessoais ou não depende deste tipo de relação. A relação envolve atos de assistência mútua. Quando se tem amizade instrumental é possível você existir para os outros, outros que anunciam e informam da nossa existência, dos nossos planos. É aí que a importância disto extrapolam a esfera da subjetividade atingindo ou sensibilizando os outros. É isso que ocorre quando se forma uma rede social de amigos - os contatos são feito boca a boca e, como dizem por aí, nada melhor do que isso para saber quem são de fato as pessoas! Em uma rede de amigos, os amigos nos coloca em contato com os seus amigos e assim viramos amigos dos amigos. A partir daí fizemos amizade com os amigos dos amigos dos amigos. Sem dúvida, fui convencida que para inciar qualquer projeto é vital um conjunto de contatos estabelecidos e cuidadosamente cultivados. A questão é: como fazer isso? Como já confessei: não tenho nenhuma habilidade. Não me ensinaram! O que sei é que uma amizade não se pode forçar, então, como fazer? Participar de algum evento pode ser um bom caminho. Por sincroniciade chegamos até o Aldeia da Paz , evento que ajudaremos a organizar em 2012, em POA.



Textos lidos:
Apresentando ”amigos de amigos: redes sociais, manipuladores, e coalizões”
Parentesco, amizade e relações patrono-cliente em sociedades complexas de Eric R. Wolf
de Jeremy Boissevain