A
realidade é dual: esquerda X direita, bem X mal, bom X ruim, corrupção X
fascismo. A realidade é maya (ilusão). Em tempos como estes estar aprisionado
em maya é não conseguir ir além da dualidade existente no mundo, é ser presa do
medo. Medo do que está por vir no âmbito político-social: uma ditadura? Medo do
que anda acontecendo nas ruas: preconceito escondido se manifestando na forma
de violência. Medo do que poderemos viver: uma perda da nossa liberdade
(exterior). Acontece que o medo cria o que tememos. Como li um dia destes:
pensamento, é elétrico, emoção magnética.” Isso quer dizer que o pensamento
funciona por descargas elétricas, as emoções funcionam por vibração; elas
atraem o que vibram. O que acrescento, agora, é que ambos não se opõem, mas estão
conectados. Aquilo que a emoção vibra e atrai está intimamente ligado com o
pensamento. Se vibro emoções positivas não apenas atraio o que é positivo como
penso mais positivamente e isso se reflete no modo como percebo/compreendo o
mundo.
Kau Mascarenhas
No
mundo da dualidade, o contrário do medo é o amor em seu sentido elevado: como
compaixão. Esse amor vê até mesmo o vilão de toda essa história política como
sendo vítima da ignorância; reconhece que ele também é um ser divino. Pôr em
prática o amor não é tão fácil como se pode pensar. Tente, e verás que é um
exercício que deve ser constantemente lembrado para ser posto em prática. A
prática do amor como compaixão nos retira, nos faz ir além, nos faz transcender
o mundo da dualidade – maya. Além do amor há uma outra maneira de transcender a
realidade dual: torna-te equânime, em outras palavras, encontre o equilíbrio, o
meio-termo. Estar equilibrado é não estar nem de um lado nem de outro isso, no
entanto, não significa não agir. Como parte da realidade político-social não
posso deixar de agir. Ajo, escolho, decido pelo mais sensato, mas, com
equilíbrio.
O encontro do ponto
de equilíbrio ou da equanimidade depende da compreensão de que a vida é um
jogo, é samsara. A roda do mundo gira, o jogo acontece, e o que se mantém em
constância é a ignorância. O mundo é ignorância e lutar contra a ignorância da
multidão do mundo é vão porque desde que o mundo é mundo a ignorância sempre
está aí. Ela está aí porque é para estar, sem ela não há o mundo humano. Entrar
na batalha contra a ignorância do mundo - seja ela política ou de outro tipo é
lutar contra o que está fora e nessa luta não encontramos a paz. Conta uma
história hindu que Rama, um grande rei e guerreiro inigualável, venceu grandes
batalhas e muitos inimigos fora de si, mas não conseguia encontrar a paz do
lado de dentro. Para isso foi necessário voltar-se para si, foi preciso lutar
não contra a ignorância da multidão, mas contra a própria ignorância. Quando
lutamos com a nossa própria ignorância e não com a do mundo conseguimos
encontrar a paz dentro (de nós) e é assim que temos que viver seja em uma
democracia ou ditadura