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terça-feira, 21 de setembro de 2021

O segredo por trás da filosofia autêntica

 


Quando se ouve falar em filosofia é comum vir à cabeça a ideia de que é algo difícil, abstrato e distante de nós. entende-se que ela é questionamento e pensamento (teorias ou ideias) construídas por pensadores sobre as coisas da vida/mundo ou sobre o que está além (metafísica). O que? Como? Por que? De onde? são as perguntas guias.

Sim, a filosofia é isso - teoria, mas ela não só isso. A maioria não sabe que a filosofia também possui uma dimensão prática. A parte prática da filosofia é um conhecimento que o pensador obtém pela experiência e sobre si mesmo e que interfere diretamente na sua maneira de fazer filosofia. Pode-se dizer que é o autoconhecimento do pensador o que faz a diferença na sua maneira de pensar e fazer filosofia.

A filosofia que se faz por aí, academicamente, em geral, se resume a uma teoria que não leva em conta a parte prática, quer dizer, é um pensamento crítico, reflexivo, argumentativo que acontece sem a prática do conhecimento de si. O autoconhecimento, no entanto, é parte essencial da filosofia em sua origem e, igualmente, da filosofia dos grandes pensadores da história.


Pitágoras, por exemplo, foi um sábio porque além de seu pensamento, cultiva a prática da disciplina e autocontrole e, igualmente, exercícios de controle mental. Não é à toa que Heráclito fala que um inteligência cultivada (intelectual) somada aos exercícios de vida prática conduz a inteligência divina. Não é em vão que Sêneca praticava exercícios espirituais e que Heidegger se retirava em sua cabana na floresta negra.

Então, a próxima vez que você ouvir falar em filosofia você vai lembrar que ela é muito mais do que teoria, ela também é uma atividade relacionada ao conhecimento do pensador em relação a si mesmo. A filosofia originária e autêntica possui, portanto, um âmbito prático (práticas sobre si mesmo) e o âmbito do pensar (o lado teórico-intelectual).

quarta-feira, 31 de março de 2021

Cambio de perspectiva



A maior mentira que nos contaram até hoje é a de que vivemos separados de todo o resto. Fomos domesticados na crença de que somos uma parte separada do que nos rodeia: os outros, a natureza, dos acontecimentos do mundo.

Separatividade e superioridade da nossa vida é o que sentimos em relação aos demais seres e, por isso, seguimos explorando (usando) uns aos outros e sendo agressivos com a natureza.

A pandemia é uma reflexo desse tipo de mentalidade. O covid-19 é um contra-ataque ao modo de vida que criamos, que está baseado em uma exploração e devastação do sistema da vida. 

A pandemia gripal veio como uma consequência mas, ao mesmo tempo, é uma oportunidade para dar um outro rumo para a educação. Isso, porém, depende de um cambio (mudança) de perspectiva.

Cambiar significa reconhecer que tudo é relação, isto é, que existe uma interdependência de tudo com tudo e todos com todos. Isso já é comprovado na física quântica, agora, resta levar esse conhecimento cientifico para a nossa vida. 

Só depois que mudamos a nosso modo de perceber o mundo a nossa volta é que podemos levar essa mudança para a educação dentro e fora de casa.

O desafio da educação pós-pandemia é exatamente construir esse senso de interdependência global e mostrar que disso depende a manutenção de toda a vida que existe a da terra e, inclusive, da própria terra enquanto um organismo vivo.


🎨@raangul



domingo, 28 de março de 2021

Fantasia da separatividade


imagem:@ciclodeexpansao

Dizem que Descartes

é o inventor do dualismo:

Corpo versus alma

Matéria versus espírito

Eu diverso do objeto

Eu reverso da natureza

Razão versus experiência

Exterior versus interior

Sujeito separado do mundo

....

Sujeito racional

Sujeito linguístico

Sujeito cognoscente

Temporal e perspectivista

Sujeito de consciência

Husserlianamente,

Consciência intencional

Consciência de alguma coisa

do outro e do mundo

Consciência que

 ao voltar-se para si

Silencia o pensamento

Torna-se testemunha

Uma consciência sem mundo

Consciência

Do sujeito que é o mundo


sexta-feira, 12 de março de 2021

PANDEMIC: vida e morte

 


Há pavor nos rostos

A morte bate na porta da vizinhança

Bate lá, acolá e poderá bater aqui

Teme-se

É o medo do fim

Mas o fim não está aí,

onde há vida?

Não é seu complemento?

Vivemos esquecidos da unidade ente vida-morte

...

Estes nossos dias são de morte

O campo predileto

de atenções e meditações dos estudiosos.

Hoje, outra vez, ela é o centro

Por isso, aproxima-te

Convida-a para uma conversa

Fausto já fez isso, agora

Façamos nós.

Sem temer, olhe para ela

O que vês? O fim?

Isso é questão de crença?

Ou de perspectiva?

...

                            Imagem: @raangul

O que é a morte?

A crença vai te dizer que a morte, não é a morte

Afinal, a vida continua em outro plano ...

Ou não.

A mudança de perspectiva vai dizer que

nada é separado de nada.

Onde uma está (é), a outra se esconde

A vida não é sem a morte

Isso se repete por milhares de anos ...

O eterno retorno do mesmo

O espírito da VIDA

E, se partires, agora

Ainda retornarás como VIDA 

De outra forma

Em outro corpo, em outro agora ...

Então, por que temer?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sociedade do CANSAÇO em momentos de PAUSA

 


A sociedade do cansaço, um livro do pensador coreano Chul Han, evidência que o homem pós-moderno, isto é, o ser-no-mundo que nós somos vive a realidade do excesso de trabalho, da superprodução, da autoexploração, da superinformação, da superabundância, da comunicação generalizada, da maximização do desempenho e da superatenção.

A maioria de nós, atualmente, é vítima do excesso de estímulos, informações, de trabalho e de cobranças em relação a si mesmo. Em casa, no mundo do trabalho, na academia, na criação dos filhos, etc, nos cobramos para ter um bom desempenho, nos esforçamos para nos tornar sempre melhores, ser mais produtivos, bem sucedidos, autênticos (comprometido em ser nós mesmos, em descobrir e mostrar nosso potencial), perfeitos.

Para produzir sempre mais e melhor, para aparentar ser mais e melhor, para ter mais e do melhor, a maioria de nós cobra de si mesmo tal como um senhor cobra do escravo. Hoje em dia, nos sentimos orgulhosos quando podemos dizer que somos senhor de si mesmo, chefe de si mesmo, empreendedor de si mesmo, porém, não percebemos que sofremos um novo tipo de exploração, a autoexploração. Essa forma de exploração é mais eficiente do que a de outros tempos porque é uma exploração que não vem do outro (senhor ou patrão), mas de si mesmo. “O explorador é ao mesmo tempo o explorado” (p.30)

O ser-no-mundo atual autoexplora-se no nível físico a ponto dele estar sempre fazendo, fazendo e fazendo; é um fazer hiperativo, excessivo, que cansa e esgota. Igualmente, explora-se no nível mental, pois não pára de pensar, planejar, calcular, cuidar. Por causa da vida acelerada e hiperativa, hoje temos uma atenção dispersa e difusa, que muda rapidamente de foco, que perambula inquieta de lá para cá, e, portanto, de curta duração. Temos uma atenção multifocal, quer dizer, uma hiperatenção, que por ser tão ampla é, ao mesmo tempo, superficial.

No mundo atual vivemos, então, uma aceleração do lado de dentro e do lado de fora. Em geral, corremos, e, estamos sempre correndo, mas vivemos com a sensação de nunca chegar onde se quer chegar. Até quando dormimos, fizemos essa pausa para ter energia para, no outro dia, seguir correndo, produzindo, aparecendo, sobrevivendo. Não paramos nunca, porque nos cobramos muito e não conseguimos relaxar; se fizemos uma pausa nos sentimos mal, desconfortáveis e com culpa por "estar fazendo nada" e medo de perder o controle das coisas, de quebrar a rotina.

Uma sociedade marcada pela produtividade, pelo desempenho (esforço), pelo excesso de cobrança em relação a si mesmo (autoexploração), cansa, esgota e adoece. Ela diz o tempo todo que precisamos nos esforçar mais e fazer por nós mesmos, que não somos bons o suficiente já que não conseguimos dar conta de tudo, que não podemos parar, relaxar, entregar-se ao “dolce far niente”. Nessa sociedade nos tornamos pessoas aceleradas, e a aceleração do nosso ritmo de vida nos impede de vivenciar duas coisas fundamentais para uma vida saudável, equilibrada e criativa: a pausa e a atenção profunda. 

Na sociedade do desempenho e do cansaço, na vida de aceleração e distração, não há a pausa, que é necessária para criatividade. Pausamos quando estamos na natureza, quando nos desconectamos e desaceleramos. Ao diminuir o ritmo acelerado que vivemos (tanto do lado de fora quanto de dentro) conseguimos ver o mundo de maneia mais atenta, de modo mais concentrado, enfim, quanto menos distraídos, mais atentos e capazes de olhar demoradamente, de contemplar o que existe, de ver milagre no banal e simples.

É da contemplação, da atenção profunda, da concentração atenta (conforme constata Han e também a médica e educadora italiana Montessori) que nasce a cultura. Ou seja, a filosofia, a arte e, igualmente, as grandes descobertas que promovem o progresso do mundo civilizado acontecem a partir da contemplação, da observação atenta, concentrada, demorada, profunda da realidade. Por fim, o que resulta da falta de pausa e da superatenção, é, então, uma carência criativa. Talvez isso explique porque, conforme ouvi a poucos dias atrás, os jovens adultos atuais lêem bastante, mas produzem muito pouco!!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Mundo, Finitude, Solidão

 Em tempos de PANDEMIA gripal, o que te perturba? Não é exatamente o mundo, o medo da morte e a solidão?  Nos dias de hoje, o existente humano vive perturbado por uma ameaça à vida, pela necessidade de isolamento e pela alteração no seu modo de vida. Por estar perturbado ele pode deixar de viver distraído, absorvido e perdido no mundo do trabalho, das ocupações, das relações, das aparências, do virtual e FILOSOFAR.

Por causa da pandemia, surgiram barreiras, ergueram-se muros e portas foram fechadas. O mundo das ocupações cotidianas, de repente, não mais que de repente, deixa de ser familiar. O existente humano deixar de estar absorvido pelo mundo cotidiano  das ocupações e, ao mesmo tempo, precisa isolar-se dos outros. Ele sente-se estranho no mundo e isso angústia

Em sua nova rotina, o existente no mundo fica da porta de casa para dentro, e, em função disso, está em contato mais íntimo com aqueles com quem divide o mesmo teto e/ou tem uma maior intimidade consigo mesmo, com o seu ser-no-mundo. Em casa, isolados, ficamos mais íntimos dos próximos, de nós mesmos, da nossa casa interior, mas também nos sentimos mais sozinhos e isso nos angústia.

Em tempos pandêmicos o estar no mundo é afetado pela possibilidade da morte de si e do outro: do amigo, do vizinho, dos parentes. O ser-no-mundo, de repente, desperta em si a angústia do nada, que entende-se aqui como sendo a possibilidade da morte, ou ainda, como sendo da própria finitude humana. 

Desenho:@mauri_zanoni

A situação existencial de estar em casa vivendo a fuga da solidão por meio da conexão virtual, a reconfiguração da vida social, do modo de trabalho, da rotina ... gera a ANGÚSTIA. 

Um ser humano angustiado está em condições de fazer FILOSOFIA. E a filosofia é isso: um casamento com a vida. Ela não acontece separada do próprio existir, porém, é preciso ser tocado ou afetado pela existência. ela não acontece no conformismo, na apatia, na acomodação, no aquietamento.

A philosophia desde a sua origem, começa com uma perturbação: o espanto. Se não somos tocados, perturbados, inquietados, angustiados, enfim, despertados na nossa existência no mundo, então, a filosofia não acontece.

Se, os teus dias de pandemia, são de angústia, então, encoraja-te! Acolha e aceite a angústia, quer dizer, viva afinado com ela. Se não fugir e tiver a coragem de vivenciar a angústia, te encontrarás em abertura, serás um Dasein (o ser-aí) em condição filosofar e transcender o mundo.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Por que a MÃE não pode fazer o papel do PAI?

 

Já faz uma ano que aconteceu a desintegração daquilo que chamava de família, a vida dividida em três, “três vidas inteiras”, uma para um lado e outras duas para outro. O ano de 2020, como dizem, foi atípico! De fato. Depois de 20 anos, comecei com a vida partida, convivi com a ausência do pai.

Se antes era o colo da mãe, a mão da mãe, o cheiro da mãe, o peito da mãe, o corpo da mãe que a criança precisava, agora, a partir de seus 2a7m é a proteção, a segurança, a socialização dada pelo pai, que se ausenta. O pai é aquele que abre a porta de casa e mostra o mundo ao seu filh@. O pai é a referência da construção interior do masculino que acontece na mente da criança, a imagem masculina que ela constrói na mente acontece a partir da sua visão do pai. O pai é quem faz a separação da fusão vivida entre mãe e filho, ou seja, é aquele que faz a separação emocional vivida simultaneamente pela mãe e a criança.

Laura Gutman, no livro A maternidade e o encontro com a própria sombra diz que “a separação é masculina, enquanto a fusão é feminina” (p. 137). A mãe está fusionada com o bebê porque nos primeiros anos de vida ela é o mundo para a criança. É ela quem acalma, alimenta, cuida, apoia o recém-nascido e, no que diz respeito ao emocional, o que um sente o outro também sentem. Mesmo que com o nascimento aconteça uma separação entre o corpo da mãe o da corpo criança, nas emoções isso não acontece. Aqui há uma unidade entre mãe-filho.

E somente depois de completar 2 anos, que o filh@ começa a se separa emocionalmente da mãe, começa a se compreender como um eu diferente dela. A partir daí, a mãe também se compreende como alguém separada da criança e, assim, começa a retomar a sua vida normal e recuperar a sua identidade (quem eu sou?), enfim, fica em condições de recomeçar a sua vida. Muitas mulheres, neste momento, engravidam de novo enquanto que outras aproveitam a ocasião e transforam a sua vida profissional, repensam e recriam o seu modo de existir no mundo.

 Como a tendência feminina é para a fusão emocional, a mãe não consegue sozinha realizar a separação emocional necessária, quando é chegada a hora, mais precisamente, entre os 2 e os 3 anos da criança. Cabe ao pai fazer a separação fusional entre a mãe e a criança. Ao fazer isso é ele quem se torna fusionado com seu filh@. Mas, e quando há um pai ausente? Então, algo ou alguém precisa desempenhar esse papel. O que acontece é que a mãe não pode pretender anular o lugar do pai ou fazer o que, por natureza, cabe a ele.

Se não há o pai, o papel do separador pode ser feito, preferencialmente, por meio de outra figura masculina (por exemplo, pelo avô, pôr um amigo da mãe). Além disso, a separação pode ser feita por meio de outras relações afetivas, de um trabalho interessante, por uma atividade artística, social, esportiva, por meio de objetivo pessoais. Não importa muito o tipo de atividade (separador emocional), o que é importante é o fato da mãe viver circunstâncias que favorecem o seu afastamento e desprendimento da criança.

A separação emocional é um processo lento, mas que precisa acontecer para se ter o desenvolvimento psicoafetivo saudável da criança e para o crescimento equilibrado tanto da mãe quanto do filh@.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

O segredo atrás da criança que brinca sozinha





Vem brincar comigo? Esse, certamente, é um dos convites que os pais mais escutam quando estão em casa com seus filhos. Isso acontece porque brincar é um das necessidades da criança. Ao brincar ela desenvolve o seu aspecto cognitivo, motor, social, criativo e emotivo. A criança quer brincar com o outro, mas ela também sabe brincar sozinha, e gosta!

Aqui em casa, hoje, ela acordou assim, disposta para o brincar solo. Ela não pulou em cima de mim me acordando com: vamos brincar? Ela acordou e rapidamente fez sua rotina matinal na intenção de brincar lá no seu espaço. Ela acordou com o interesse pelo brincar sozinha, introspectivo, silencioso e, ao invés de sentar-se diante da tela, manteve a escolha de estar a sós com seus brinquedos, no ambiente preparado para o brincar, longe dos olhos do adulto. É do interesse dela brincar sozinha e, enquanto adulto, cabe a mim respeitar, permitir, não intervir ou interromper.


É claro que a criança também gosta de interagir, quer contato, troca, isso porque ela precisa do outro. Quando não há outras crianças para partilhar o brincar, então caberá ao adulto. Ela convida o adulto para brincar e, ao aceitar o convite, nós adultos podemos oferecer o que temos de mais precioso, o nosso tempo de qualidade (presença). Ou seja, o que de melhor podemos fazer quando brincamos com uma criança é, de fato, brincar com ela, isto é, estar aí, por inteiro, presentes, enfim, entrar na brincadeira.

Quando o adulto brinca com a criança mas não lhe oferece o tempo de qualidade, quando ele brinca com o corpo presente e a mente em outro lugar, então, a criança percebe a sua ausência e, por isso, continua convidando-o para brincar. A criança que o tempo todo precisa do adulto para brincar, está, na verdade, pedindo a sua presença, ou como se diz, a sua atenção.


Presença é o que a criança demanda dos pais! Se ela tem pais presentes quando brincam, certamente, será uma criança que também saberá ficar a sós consigo mesma e brincar sozinha quando for de seu interesse e, igualmente, quando os pais, para ter um tempo para si, pedem que ela faça isso. Os pais presentes são, então, aqueles que, as vezes, se tornam desnecessários.